Nesta tese, realiza-se uma investigação sobre as condições de possibilidade da emergência de uma forma de governo da vida, nomeada judicialização. Para tanto, detém-se em um efeito de construção da maquinaria judicializante, na qual o chamado bullying investe e produz subjetividade. A partir da redefinição de subjetividade e da noção de máquina, ambas propostas por Félix Guattari, o efeito bullying é tomado como um analisador da vida em judicialização. Acompanhando principalmente o referencial teórico-analítico de Michel Foucault, por meio de algumas ferramentas conceituais, desenvolvidas, como as noções de governamentalidade, normalização, sociedade judiciária e ampliação do judiciável intenta-se compreender inicialmente como a infância, no Brasil, foi judicializada. Com a aposta de operar com a judicialização enquanto um saber estratégico, tem-se o intuito de analisar os mecanismos de poder, as ligações que eles balizam, suas extensões em torno das condutas das crianças as quais foram e têm sido alvo da forma tribunal, de discursos de correção e tratamento, bem como de punição e policiamento. Atenta às renovadas maneiras de confiscar e gerir aspectos da vida sob o regime de governo neoliberal, a tese realiza problematização do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como dispositivo produzido historicamente, que apresenta diferenças e continuidades em relação ao regime anterior, o menorismo. Questiona o investimento na categoria bullying, importada de outras realidades, e as ressonâncias que se têm estabelecido com as forças presentes no ECA. Faz a discussão dos efeitos de algumas pesquisas já realizadas em âmbito internacional, que foram desdobradas no Brasil em livros, cartilhas e repetidas pesquisas sobre bullying, para destacar a relação com a verdade e com a produção de subjetividade que esses materiais contribuem para forjar. Nesse percurso da tese, aparece um presente em que a vida se confronta com o incremento e a expansão de leis sobre bullying, apelo a novos controles e requisitadas maneiras de se exercer o auto-controle. Da análise crítica da vida em judicialização e, ao final, contando com o aporte de alguns derradeiros deslocamentos propostos por Foucault, que positivam os processos pelos quais o sujeito é construído e modificado por ele mesmo, almeja-se potencializar um olhar com foco na afirmação da vida forte. Espécie de desordem que escurece a cena judicializante e quiça permita ver pequenas luzes de relações a se construírem com forças intensivas que vazam as formas de vida fragilizadas, carentes de proteção.