O Brasil é conhecido por abrigar as maiores concentrações de bancos de rodolitos do
mundo. Apesar de sua elevada importância ecológica, econômica e ampla distribuição,
poucos estudos foram realizados acerca destas comunidades. Isso se deve, especialmente,
às dificuldades taxonômicas que envolvem o grupo das algas vermelhas coralináceas
incrustantes (CCA) e à carência de especialistas no país. Este estudo representa o primeiro
esforço sistemático para conhecer as espécies de CCA formadoras de rodolito no Brasil,
com foco na plataforma continental tropical e ilhas oceânicas. Os principais objetivos
foram: inventariar e descrever as espécies de CCA formadoras de rodolitos de porções
representativas da plataforma continental tropical e ilhas oceânicas do Brasil; revisar todos
os registros de espécies deste grupo para a região; inferir a filogenia molecular e comparar
geneticamente as espécies de Sporolithaceae mais comuns, incluindo representantes que
ocorrem no Brasil e determinar os padrões de distribuição geográfica e vertical de cada
espécie analisada. Foram realizadas coletas para inventário taxonômico das CCA
formadoras de rodolito em 51 sítios de coleta, entre 5-110 m de profundidade, distribuídos
em sete grandes regiões da plataforma continental do sudeste, nordeste e ilhas oceânicas
brasileiras, a saber: Sul do Espírito Santo, Plataforma Continental de Abrolhos, Cadeia de
Montanhas Submarinas Vitória-Trindade, Salvador, Foz do Rio Amazonas, Atol das Rocas
e Fernando de Noronha. As CCA foram descritas e identificadas com base em
características morfoanatômicas através de observações em microscopia óptica e eletrônica
de varredura. No caso da família Sporolithaceae, algumas espécies também foram
analisadas em nível molecular. Foram identificados e descritos 20 espécies de CCA
formadoras de rodolitos que, somados a registros prévios da literatura, totalizam 24
espécies para a área de estudo e 26 para o Brasil. Destes, Sporolithon tenue representa uma
nova espécie para a ciência, sendo filogeneticamente distinta com base em dados
moleculares do gene psbA. Evidências morfoanatômicas e moleculares sugerem que
Sporolithaceae sp. corresponde a um gênero novo. Os táxons Lithothamnion sp. e
Phymatolithon sp. apresentam conceptáculos tetrasporangiais com características únicas
jamais encontradas em espécies de seus respectivos gêneros, o que sugere que também
podem se tratar de espécies novas para a ciência. Seis novos registros de ocorrências de
CCA para o Brasil e/ou Atlântico foram divulgados dentre os nove artigos científicos
publicados ou no prelo relacionados a esta tese. Uma chave dicotômica de identificação
geral para as espécies de CCA formadoras de rodolito da região foi elaborada. A
Plataforma Continental de Abrolhos foi a área de estudo com a maior riqueza de espécies
(total de 14). As espécies com distribuição geográfica mais ampla foram Hydrolithon
rupestre, Lithothamnion crispatum, Mesophyllum erubescens e Sporolithon ptychoides.
Em relação à distribuição vertical, Hydrolithon rupestre, Lithophyllum stictaeforme,
Lithothamnion crispatum e Sporolithon tenue foram as que tiveram presentes na maior
variação de profundidade. A maioria das grandes áreas estudadas tiveram a flora de CCA
formadoras de rodolitos com pelo menos 30% de similaridade entre si, o que sugere uma
possível conectividade, passada e/ou presente, entre estas áreas. Uma comparação
realizada com outros bancos de rodolitos do mundo revelou que a riqueza de espécies da
flora de CCA formadoras de rodolito no Brasil é a maior do planeta. A semelhança da flora
de CCA formadoras de rodolitos no Brasil com aquela encontrada no Indo-Pacífico sugere
que esta última deva ser o centro de dispersão da primeira.