A Zona Costeira Amazônica Brasileira destaca-se não apenas pelas
proporções de seus rios e estuários porém pela complexa rede de canais a estes
associados, a qual submetida a um regime de macro a mesomarés em uma linha de
costa de baixa altitude resultam em extensas áreas sujeitas a inundação diária.
Porém a influência das planícies de maré e suas redes de canais sobre a
hidrodinâmica dos estuários locais ainda é pouco conhecida. Neste cenário,
destaca-se a costa leste da Ilha do Marajó, a qual, banhada pela baía do Marajó,
possui como principal drenagem de suas planícies costeiras redes de canais de
maré. O presente trabalho visou aplicar modelo hidrodinâmico 2DH em dois canais
de maré da costa leste da Ilha do Marajó, o canal Andiroba (praia do Pesqueiro,
Soure, Pará) e o canal Limão (Vila de Joanes, Salvaterra, Pará), gerando simulação
da hidrodinâmica e do transporte sedimentar para 1 ano. Foram gerados cenários
com a presença e ausência dos ventos a fim de identificar a influência dos mesmos
sobre a hidrodinâmica dos canais. O levantamento de campo mostrou que estes são
canais arenosos, bastante rasos sob uma hidrodinâmica alta a muito alta, sujeitos a
constante migração lateral associada formação de bancos e barras arenosas. A fim
de validar o modelo hidrodinâmico foram monitoradas as correntes de maré e
elevação da maré em duas estações fixas, uma a montante e outra na
desembocadura de cada canal ao longo de um ciclo de maré. Na desembocadura do
canal Andiroba foi observada altura de maré de 3,88m e corrente máxima de
0,62m/s, com correntes de vazante levemente acentuada, enquanto que a montante
foi observada altura da maré de 3,64m, com corrente mais intensa durante a
enchente atingindo o máximo de 0,94m/s. No canal Limão foram observadas alturas
de 2,94m na desembocadura e 2,65m a montante do canal, com máxima
intensidade na corrente de 0,69m/s durante a vazante na desembocadura do canal,
enquanto que a montante a máxima foi de enchente atingindo 0,87m/s. O modelo
hidrodinâmico do canal Limão não apresentou resultados satisfatórios apontando a
necessidade de uma melhor representação da área modelada. O modelo
hidrodinâmico do canal de maré Andiroba, no entanto, correspondeu aos padrões
observados em campo refletindo em bons resultados para o modelo de transporte
sedimentar aplicado ao canal, sendo confiável a simulação de cenários futuros para
este ambiente. É notável a discrepância entre a abrangência e importância
socioeconômica das áreas sujeitas à inundação diária na zona costeira amazônica e
o conhecimento sobre a influência destas sobre a hidrodinâmica local, o que torna
estudos como este e sua continuidade e aprofundamento um tanto relevante para a
região.