Esta dissertação é resultado de pesquisa realizada junto ao Programa de Pós-Graduação
em Educação Profissional e Tecnológica, nível de mestrado, na linha de pesquisa de
Formação Docente para Educação Profissional e Tecnológica. A temática envolve
Trabalho, Tecnologia e Educação do Campo. O estudo foi delimitado ao Curso Normal do
Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), situado em Veranópolis, Rio Grande do Sul.
A Educação do Campo defende uma pedagogia educacional para os sujeitos excluídos que
habitam e trabalham no campo brasileiro, em suas mais diferentes regiões, que não
receberam apoio para o desenvolvimento educacional nas faixas etárias recomendadas pela
legislação. De fato, o ensino nas escolas do campo esteve, durante muito tempo,
organizado a partir de referenciais alheios aos seus sujeitos, isto é, distantes da realidade
local, do indivíduo e da comunidade. Essa dificuldade foi provocada por uma educação rural
que privilegiou o sistema agroexportador desde o início da colonização do país,
desdenhando as demandas de camponeses, indígenas, negros, pobres em geral, gerando
relações semelhantes às de escravidão no campo. Com a finalidade de enfrentar esses
óbices, os Movimentos Sociais, em especial o dos trabalhadores sem-terra (MST),
organizaram-se por meio de uma proposta educacional que superasse as dificuldades
econômicas impostas aos sujeitos do campo, com destaque para a auto-organização das
pedagogias populares. É nesse contexto que se insere o IEJC e o Curso Normal, objeto de
estudo desta dissertação, a qual objetiva analisar o trabalho, a tecnologia e a Educação do
Campo na estrutura pedagógica do Curso Normal do instituto, de maneira a explicitar a
forma pela qual o Curso Normal se aproxima dos princípios da Educação do Campo.
Utilizou-se, para tanto, o método de natureza qualitativa, exploratório no que tange aos
objetivos e, em relação aos procedimentos, de revisão bibliográfica e análise documental. A
revisão bibliográfica, de cunho narrativo, alicerçou a base teórica para a análise documental,
especialmente no que concerne aos autores de linhagem marxista ou próximos das
premissas do materialismo histórico e dialético, a exemplo de Dermeval Saviani. Sublinhase, igualmente, os autores imprescindíveis para o entendimento da Educação do Campo,
como Roseli Caldart. Já a pesquisa documental considerou os Cadernos do ITERRA,
publicações realizadas pelo Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma
Agrária (ITERRA), mantenedor do IEJC. Percebeu-se a singularidade da proposta
pedagógica do Curso Normal, especialmente, ao adotar o trabalho como princípio educativo,
a tecnologia enquanto saber capaz de transformar a realidade, a consideração das
necessidades campesinas. Esses elementos, conjugados, edificam uma proposta
pedagógica centrada na práxis e com potencial de emancipação das populações
camponesas.