O câncer de colo uterino é considerado, entre as mulheres, o segundo tipo de câncer
mais comum no mundo. Ao longo dos últimos 30 anos diversos estudos têm mostrado uma
íntima associação do câncer cervical (CC) com a infecção persistente pelo Papilomavírus
humano (HPV). Programas de rastreamento, baseados em sua maioria no exame de
Papanicolaou, têm reduzido bastante a incidência do CC em todo o mundo, principalmente
pela detecção precoce das lesões precursoras com beneficio ao tratamento e acompanhamento
das pacientes. Entretanto, os métodos de diagnostico citológico apresentam algumas
limitações que comprometem a sua sensibilidade e especificidade. Vários estudos já
realizados e ainda em desenvolvimento são direcionados à descoberta de biomarcadores, que
aumentem a eficácia de detecção das lesões cervicais com maior risco de progressão, e que
possam representar um complemento para o exame citológico e o teste do DNA/HPV. No
presente estudo avaliou-se o padrão de expressão da proteína MCM7 envolvida na regulação
da duplicação do DNA, e da L1, principal proteína do capsídeo do HPV, entre diferentes
categorias de lesões cervicais e em relação à infecção pelo HPV. Por meio da técnica de
Imunocitoquímica (ICC), avaliou-se a expressão dos dois biomarcadores em esfregaços
preparados a partir de 213 amostras cervicais colhidas em CML, e classificadas pela Citologia
como ASCUS (36,1%), Lesões de baixo (55,8%) e alto (3,3%) grau, além de amostras sem
anormalidades. Observou-se que 39/213 (18,3%) das amostras apresentaram positividade para
MCM7, com ausência de expressão da proteína nos casos sem anormalidades, e expressão
crescente de MCM7 de acordo com a severidade da lesão (7,3% de ASCUS, 65,3% das LBG
e 100% das LAG). Além disso, observou-se uma grande associação entre a expressão de
MCM7 a detecção do DNA/HPV. Com relação à expressão da proteína L1 do HPV,
verificou-se que 82/162 (62,6%) das amostras testadas apresentaram imuno-marcação para
L1, com forte associação entre a expressão dessa proteína e as lesões de baixo grau, e a
presença do DNA/HPV. A análise combinada de quatro diferentes perfis de expressão dos
dois biomarcadores, em relação às diferentes categorias de lesões estudadas, claramente
mostrou que as amostras ficaram divididas em dois grandes grupos, estando a maior parte
delas (ASCUS e LBG) dentro do grupo que não expressava MCM7 (os perfis MCM7-/L1- e
MCM7-/L1+). Além disso, cerca de 20% das amostras de ASCUS e LBG, e todas as amostras
de LAG apresentaram os perfis MCM7+/L1+ e MCM7+/L1-, possivelmente mais
relacionados a lesões cervicais mais severas. Conclui-se, portanto, no presente estudo, que a
análise combinada da expressão das proteínas MCM7 e L1 do HPV, as qualificam como
excelentes marcadores de severidade das lesões cervicais, associadas à infecção pelo
Papilomavírus humano.