Introdução: Esta pesquisa apresenta a atuação do profissional Farmacêutico no
Sistema Único de Saúde (SUS) que, embora inserido nesta política pública, tem a
tímida participação na Atenção Primária à Saúde. À ótica da integralidade,
manifesta-se, a cada dia, a preocupação da garantia do acesso à saúde, sustentada
a afirmação de que esse eixo norteador leve a práticas em saúde inimagináveis até
então. Acredita-se, assim, que o Farmacêutico apoia esta vertente, inclusive com a
identificação desse desempenho aliado às iniciativas interprofissionais junto à
equipe da Estratégia de Saúde da Família. O objetivo da dissertação foi avaliar a
colaboração interprofissional da equipe de saúde, como também as atividades de
saúde do profissional Farmacêutico, quando assim preservadas suas atuações na
equipe mínima da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Método: estudo
exploratório, descritivo de abordagem qualitativa, utilizando a Escala de Avaliação
da Colaboração Interprofissional em Equipe (AITCS II-BR), a partir de sua tradução
transcultural de Bispo e Rossit (2019), que avalia se o trabalho da equipe de saúde
se conforma para a Prática Interprofissional Colaborativa. Consistiu na aplicação
desse instrumento contendo 23 assertivas, por meio da Escala de Likert, dividido em
3 dimensões: parceria, cooperação e coordenação. A análise atitudinal utilizada no
instrumento AITCS II-BR foi o tratamento matemático de médias, cujas assertivas e
dimensões classificadas em “zona de conforto” (3,68-5,0), “zona de alerta” (2,34-
3,67) e “zona de perigo” (1,0-2,33), categorizações estas que registram na zona de
conforto, aspecto positivo da pesquisa, na zona de alerta, necessidade de mudanças
e na zona de perigo, urgente intervenção. O grupo focal foi empregado apenas aos
Farmacêuticos da ESF e o tratamento das conversas em grupo levadas à análise de
conteúdo, identificando falas que consideraram a contribuição do Farmacêutico junto
à equipe e suas intervenções no campo do cuidado em saúde. Resultados: A
pesquisa demonstrou que a equipe da ESF possui engajamento colaborativo, as
dimensões parceria e cooperação exibiram médias de 4,06 e 3,88 respectivamente,
apontando tais dimensões para a zona de conforto, o que demonstra aspecto
positivo do trabalho em equipe no desenvolvimento da interprofissionalidade. A
dimensão coordenação desvelou resultado na zona de alerta, a média obtida foi de
3,36, cujo resultado demonstra fragilidade dessa dimensão, indicando a necessidade
da equipe desenvolver-se melhor para a interprofissionalidade nesse quesito. O
grupo focal identificou boa participação do profissional Farmacêutico junto à equipe,
com falas que promovem ações interprofissionais e em consonância com o eixo
integralidade do SUS. Sua presença em tempo integral tem contribuído para a
possibilidade de integrar-se na equipe mínima da Estratégia de Saúde da Família,
rompendo assim, o silenciamento do cuidado em saúde, gerado da ausência desse
profissional, esta carência comumente observada quando se analisa as atuações do
Farmacêutico na Atenção Primária à Saúde no país. Considerações finais: A análise
da AITCS II-BR evidenciou que o profissional inserido na política do SUS tem perfil
interprofissional. Pode estar ligado ao próprio ambiente que desenvolve o
profissional para este cenário, aparentemente são iniciativas ligadas ao campo
intuitivo e empírico que os levam para tais resultados, não ligado aos processos
formativos. É necessário então solidificar essa temática, a partir de um projeto
intencional para a educação interprofissional, identificadas as fragilidades
estabelecidas pela formação uniprofissional habitual dos profissionais de saúde.
Com a municipalização de toda a Atenção Primária à Saúde, será possível evitar os
deslocamentos hoje muito recorrentes dos trabalhadores terceirizados, gerando
melhoria da articulação do trabalho em equipe e da formação do profissional para o
SUS. A criação da Residência Multiprofissional pode também contribuir para o
processo de formação desses profissionais. A educação permanente é recurso
fundamental para tal conquista, capaz de aprofundar e amplificar aprendizagens
relacionadas ao Projeto Terapêutico Singular, liderança compartilhada,
aperfeiçoamento para um olhar afetuoso do que estabelece a Clínica Ampliada e
que fomentam a interprofissionalidade e o cuidado em saúde. A visão da maioria dos
gestores municipais sobre o envolvimento do Farmacêutico ainda é um desafio a
superar, exatamente pela sua baixa inserção nesse tipo de serviço. Embora as
políticas indutoras do SUS, cada vez mais posicionem a necessidade desse
profissional em atividades técnico-assistenciais, existem muitas barreiras de
planejamento, culturais, legais, organizacionais e de recursos humanos que
impedem o compromisso desse ator social na política da Estratégia de Saúde da
Família. Destarte, a cada dia onde está inserido, o Farmacêutico tem demonstrado
melhor condução para o uso racional de medicamentos, a partir de eventos de
cooperação, colaboração e parceria na Atenção Primária à Saúde