Objetivo: descrever as características clínicas da deglutição em pacientes com EM, descrever as alterações estruturais e funcionais relacionadas com a deglutição, estimar a frequência de disfagia aplicando a escala de severidade da disfagia, comparar características demográficas e clínicas nos pacientes disfágicos e não disfágicos e analisar possíveis associações entre disfagia e as características demográficas e clínicas do grupo estudado. Método: estudo transversal e descritivo de 30 pacientes (22 mulheres e 8 homens; 16 brancos e 14 afrodescendentes) com EM, definida pelos critérios de McDonald de 2001, sob as formas clínicas EMRR (n= 14), EMPS (n=10) e EMPP (n= 6), atendidos entre maio e dezembro de 2012 no Hospital da Lagoa, com ou sem queixa de disfagia. Realizada avaliação estrutural através do Protocolo de avaliação clinica no leito, avaliação funcional da deglutição por meio do Protocolo fonoaudiológico de risco para disfagia e utilizada a escala de severidade da disfagia. Resultados: a média de idade dos 30 pacientes foi de 45,50 (DP +- 13,76), média de idade de início da doença de 33,37 (DP +- 12,13) e média de 12,13 (DP +- 7,53) no tempo de doença. A mediana do EDSS foi de 6,2 (1 a 9); o FS piramidal 3 (0 a 5); FS cerebelar 1(0 a 3); FS tronco cerebral de 1 (0 a 4). Na avaliação das estruturas orofaciais foi encontrada força reduzida na musculatura labial e de língua. No TMF, 26 (87%) apresentaram alteração. Na relação s/z, 14 (47%) apresentaram hipercontração glótica e 12 (40%) falta de coaptação glótica. Deglutição normal ou funcional em 25 (83%) pacientes, 5 (17%) apresentaram disfagia, sendo 1 (3%) com disfagia discreta a moderada e 4 (14%) com disfagia discreta a moderada. Maior alteração na fase faríngea da deglutição. Não houve diferença entre os grupos disfágicos e não disfágicos, exceto nas formas clínicas e o FS de tronco cerebral. Não houve significância estatística na associação da disfagia entre os grupos quanto a idade atual, tempo de doença, idade de início, EDSS, FS cerebelar e de tronco cerebral. Houve significância estatística na associação da disfagia entre os grupos em relação às formas clínicas (p=0,030) e FS de tronco cerebral (p=0,027). A FS piramidal com score acima de 4 mostrou associação com a disfagia (p=0,047). Foi encontrada razoável correlação positiva e significância estatística entre a disfagia e FS tronco cerebral (rho de Spearman= 0,410; p=0,025). Em relação ao EDSS, 4 (80%) pacientes disfágicos apresentaram EDSS acima de 6. Conclusão: Apesar da frequência de disfagia ser menor que a descrita na literatura, nossos pacientes apresentam alterações na dinâmica da deglutição, entretanto, utilizam compensações espontâneas durante esse processo. São necessários mais estudos sobre o perfil das fases oral e faríngea da deglutição em pacientes brasileiros com EM, principalmente aqueles que não apresentam sintomatologia clínica de distúrbios de deglutição e que apesar disso fazem uso de compensações espontâneas para as alterações apresentadas.