Introdução: O osso cortical, em relação ao trabecular, é pouco estudado no contexto
da doença renal crônica (DRC). A biópsia óssea é a ferramenta padrão ouro na
avaliação do tecido ósseo, embora seja um método invasivo e de alto custo. A
possibilidade de usar uma técnica não invasiva, como a tomografia computadorizada
quantitativa das vértebras (QCT) é clinicamente relevante. Objetivo: Investigar a
relação entre os parâmetros da QCT e biópsia óssea do osso cortical de pacientes
com DRC, assim como avaliar a associação desses parâmetros com os dados
bioquímicos e hormonais nessa população. Métodos: Esta é uma análise post hoc de
um estudo transversal de pacientes com DRC estágio 2-5ND, submetidos a exames
laboratoriais, a tomografia de coronárias, da qual se extraiu a imagem da vértebra
torácica, e biópsia óssea de crista ilíaca. As amostras ósseas não-descalcificadas
foram analisadas por histomorfometria, utilizando o software Osteomeasure. Os
parâmetros histomorfométricos analisados foram: porosidade cortical (%) e espessura
cortical (μm). A densidade óssea cortical da QCT foi expressa em Unidades
Hounsfield (UH). Resultados: Foram avaliados 50 pacientes assintomáticos, 52 ± 10
anos, 68% homens, 30% diabéticos e com taxa de filtração glomerular estimada de
34±16 mL/min/1,73 m2
. A porosidade cortical foi de 4,6% (3,6; 6,6) e a espessura
cortical foi de 578,4 ± 151,8μm. A densidade óssea cortical foi de 379,0 UH (344,7;
411,4). A densidade cortical não se correlacionou com a porosidade cortical (p = 0,67)
ou a espessura cortical (p =0,32). A porosidade se associou a maiores idades (p=0,02)
e PTH (p=0,04), e a menor função renal (p=0,03). A menor espessura se associou ao
maior nível de PTH (p=0,02). A menor densidade se associou a maiores idades
(p=0,02) e PTH (p=0,03). Conclusão: A densidade cortical medida pela QCT não se
associa a parâmetros histomorfométricos estruturais do osso cortical de pacientes nos
estágios iniciais da DRC. Por outro lado, os distúrbios bioquímicos e hormonais do
metabolismo mineral, presentes nessa fase da DRC, implicam alterações precoces do
osso cortical, detectadas por ambos os métodos.