A piscicultura continental é o ramo da aquicultura mais desenvolvido no Brasil, sendo baseada principalmente na produção de tilápia Oreochromis niloticus. Na Amazônia, uma das particularidades desta atividade em relação ao restante do país é o protagonismo dos peixes nativos, em especial do tambaqui Colossoma macropomum. Além disso, há aspectos socioeconômicos, culturais, logísticos e legais que tornam cada Estado inserido neste bioma como único em termos de demandas para o desenvolvimento da piscicultura. Neste contexto, o Pará é um dos que apresenta potencial mais subutilizado, o que acarreta na incapacidade de abastecer o seu mercado com a produção local e na necessidade de aquisição de peixe inteiro fresco, principalmente tambaqui e tambatinga, em outros Estados, como Rondônia, Mato Grosso e o Maranhão. O objetivo deste trabalho foi analisar os aspectos técnicos, produtivos e mercadológicos da piscicultura nos Estados que integram a Amazônia brasileira, assim como a evolução e o nível de especialização da atividade nas microrregiões do Pará no período de 2013 a 2019, através do quociente locacional (QL). Dentre os fatores limitantes da atividade piscícola na região amazônica estão: marcos regulatórios mais restritivos do que as normas jurídicas federais; organizações sociais de produtores pouco atuantes, especialmente, cooperativas; e complexas logísticas de obtenção de insumos e de escoamento da produção, que encarecem o produto final. Os dados oficiais disponíveis demonstram que Rondônia, Mato Grosso e Maranhão são os destaques na produção regional, estando em um estágio de desenvolvimento superior aos demais no que tange a estruturação da cadeia produtiva. No estado do Pará, a dificuldade de regularização dos empreendimentos e a consequente impossibilidade de acesso à crédito rural representam o principal fator limitante para atração de investimentos e estruturação da cadeia produtiva. As microrregiões de Paragominas, Tucuruí, Marabá, Parauapebas, Redenção e São Félix do Xingu se constituem em importantes polos produtivos de piscicultura, demandando maior atenção dos tomadores de decisão em termos de políticas públicas e dos atores sociais da cadeia no sentido de cooperar para promover competitividade. As condições naturais privilegiadas e a disponibilidade de mão de obra qualificada representam trunfos na busca pelo desenvolvimento da atividade nos estados amazônicos de potencial piscícola pouco explorado, bem como são as melhores ferramentas para negociar maiores investimentos e políticas públicas mais eficientes, caminho que perpassa obrigatoriamente pela organização social dos produtores no âmbito local e regional.