O estreitamento das relações entre o ser humano e seus animais de estimação, mais
nitidamente cães e gatos, afetou sobremaneira o modo como estes são percebidos
lares adentro, sendo considerados atualmente como membros destas famílias. Tais
mudanças causam impacto direto nos consultórios médicos veterinários, incluindo as
expectativas do tutor em relação ao papel que o profissional deve cumprir na rotina.
O que se tem visto na prática, conforme a literatura mostra, é o despreparo do
profissional para lidar com estas demandas, criando espaço para o surgimento de
situações repletas de dilemas morais e estresse moral, que ao longo do tempo podem
culminar nos quadros de Síndrome de Burnout e Fadiga por Compaixão, além de
depressão. Diversos são os fatores estressores apontados para esta realidade, e o
objetivo deste trabalho foi avaliar a percepção dos médicos veterinários de São Paulo
que atendem pequenos animais sobre a eutanásia na rotina, além da possível
influência desta decisão no bem-estar de seus pacientes. Para tanto, foi realizada uma
pesquisa do tipo exploratória com levantamento bibliográfico que culminou no
desenvolvimento de três capítulos, o último contendo os detalhamentos da pesquisa
conduzida. Para esta, foi criado um questionário estruturado, de questões fechadas e
múltipla escolha, buscando-se referência em instrumentos já validados, cujo
preenchimento ocorreu na plataforma Google Docs. O público-alvo incluiu médicos
veterinários do município de São Paulo que atuavam na clínica de pequenos animais
com cadastro ativo no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), e que
praticavam a eutanásia em sua rotina de trabalho – em animais doentes, saudáveis
ou de laboratório. A divulgação da pesquisa ocorreu nas principais mídias sociais
como Facebook, Instagram, LinkedIn, entre outros recursos. A análise estatística foi
realizada no software R1 e foram considerados estatisticamente significativos os
resultados com valor de p menor que 5%. Foi realizada a amostragem de conveniência
perante a divulgação do link do questionário online nas referidas mídias sociais, e
demais meios de comunicação. Foram respondidos 124 questionários, mas feitas as
devidas exclusões, caracterizou-se um número final de 108. Os resultados mostram
que para 44,44% da amostra a eutanásia é reconhecida como fator estressor, e como
tal, pode afetar a tomada de decisão - feitas as associações estatísticas, 25% alteram
a decisão clínica e 55,56% dos profissionais adiantam a realização do procedimento
nestas condições. O estudo indicou também a associação estatística significativa
sobre considerar ou não a eutanásia um fator estressante com 9 outros fatores
presentes no questionário.