Resumo:
A larvicultura do matrinxã Brycon amazonicus é um desafio para a cadeia da piscicultura, devido, principalmente, o comportamento agressivo e elevada taxa de canibalismo, refletindo em baixas sobrevivências nas primeiras horas de vida desta espécie. Esse comportamento tem grande relação com a intensidade luminosa e disponibilidade de alimento no ambiente de criação. Por isso, esse estudo avaliou o efeito da tecnologia de bioflocos (sistema BFT), que tem alta turbidez e diversidade de alimento natural, na larvicultura de matrinxã, por meio de dois experimentos, 1) sob diferentes níveis de Sólidos Suspensos Totais (SST) e 2) usando diferentes densidades de larvas, tendo como indicadores o desempenho das larvas, sua morfologia e a qualidade de água. No primeiro experimento criou-se larvas com 24 horas pós eclosão (HPE) na densidade de 10 larvas L-1, durante 10 dias. Foram utilizados tanques de 70 L, em triplicata, testando 4 tratamentos: controle água clara (AC) - e três intervalos de SST em sistemas com BFT, denominados BFT Baixo (BFTB) até 200 mg L-1, BFT Médio (BFTM) de 200 à 350 mg L-1 e BFT Alto (BFTA) de 350 à 500 mg L-1. Foram inseridos inóculos de bioflocos maduros nos tratamentos BFT, originários de tanques com criação intensiva de tambaqui (Colossoma macropomum) com essa tecnologia. Todas as unidades receberam o mesmo regime alimentar, somente náuplios de artemia até o 5º dia, e do 6º dia até o final, coalimentação artemia e ração em pó. A aplicação do sistema BFT aumentou em média mais de 170% a sobrevivência das larvas, comparado com AC, com 5 e 10 dias de criação, refletindo esse efeito na produtividade. Porém, em relação ao crescimento e morfologia, as larvas dos tratamentos AC e BFTB apresentaram maior peso e crescimento, principalmente pela presença de larvas canibais mais desenvolvidas, evidenciando a maior capacidade de predação e heterogeneidade do lote. Das larvas coletadas (30 larvas tratamento-1), foi observado o canibalismo tipo II (ingestão completa) com 5 e 10 dias em todos os tratamentos, exceto em BFTA com 5 dias e BFTM com 10 dias, evidenciando a influência dos elevados níveis de sólidos e, consequentemente, da turbidez, na redução deste comportamento. Assim, os resultados sugerem a importância de elevar os níveis de sólidos (200-350 mg L-1) com a tecnologia de bioflocos como alternativa para redução do canibalismo entre as larvas de matrinxã, o que aumenta a produtividade e reduz a heterogeneidade. No segundo estudo criou-se 1400 larvas com 28 HPE em 15 unidades de 1,6 L de volume útil, nas densidades de 25, 50 e 100 larvas L-1, com cinco réplicas para cada tratamento, alimentadas a cada quatro horas com náuplios de artemia, durante 5 dias. O aumento da densidade de larvas e, consequentemente a quantidade de alimento, resultou em elevadas concentrações de amônia total, nitrito, nitrato, sólidos sedimentáveis, sólidos suspensos totais e turbidez, e diminuição do oxigênio dissolvido, alcalinidade total e pH, enquanto temperatura e dureza total não apresentaram diferenças significativas. Os resultados de desempenho das larvas nos diferentes tratamentos não demonstraram diferenças significativas na sobrevivência, sendo os melhores índices zootécnicos observados nas maiores densidades, tratamentos fertilizados com açúcar (mais bactérias heterotróficas). Porém em relação a morfologia, todas as densidades apresentaram mesmo padrão de desenvolvimento, sem a detecção de canibalismo tipo II, mantendo a homogeneidade nos tratamentos. Os resultados sugerem que as larvas de matrinxã podem ser criadas por 5 dias em sistemas de bioflocos nas condições propostas, sem troca de água até 50 larvas L-1, porém para a produção de 100 larvas L-1, sugere-se a renovação parcial da água devido altos níveis de compostos nitrogenados. Assim, conclui-se que o sistema BFT é favorável na larvicultura de matrinxã, onde aumenta a produtividade e homogeneidade, reduzindo o canibalismo, facilitando o manejo da água e reduzindo seu uso
Abstract:
The hatchery of matrinxã Brycon amazonicus is a challenge for the fish farming chain, mainly due to the aggressive behavior and high rate of cannibalism, reflecting in low survival rates in the first hours of life of this species. This behavior is closely related to light intensity and food availability in the rearing environment. Therefore, this study evaluated the effect of biofloc technology (BFT system), which has high turbidity and natural food diversity, on matrinxã hatchery, through two experiments, 1) under different levels of Total Suspended Solids (TSS) and 2) using different densities of larvae, using larvae performance, morphology and water quality as indicators. In the first experiment, larvae were reared 24 hours after hatching (HPE) at a density of 10 larvae L-1, for 10 days. 70 L tanks were used, in triplicate, testing 4 treatments: control clear water (AC) - and three TSS intervals in systems with BFT, called Low BFT (BFTB) up to 200 mg L-1, Medium BFT (BFTM) of 200 to 350 mg L-1 and High BFT (BFTA) from 350 to 500 mg L-1. Inoculum of mature bioflocs were inserted in the BFT treatments, originating from tanks with intensive rearing of tambaqui (Colossoma macropomum) with this technology. All units received the same diet, only brine shrimp nauplii until the 5th day, and from the 6th day until the end, co-feeding brine shrimp and powdered food. The application of the BFT system increased on average more than 170% the survival of larvae, compared to AC, with 5 and 10 days of rearing, reflecting this effect on productivity. However, in relation to growth and morphology, the larvae of treatments AC and BFTB showed greater weight and growth, mainly due to the presence of more developed cannibal larvae, evidencing the greater capacity of predation and heterogeneity of the lot. Of the larvae collected (30 larvae treatment-1), type II cannibalism (complete ingestion) was observed with 5 and 10 days in all treatments, except for BFTA with 5 days and BFTM with 10 days, evidencing the influence of the high levels of solids and, consequently, turbidity, in the reduction of this behavior. Thus, the results suggest the importance of raising solids levels (200-350 mg L-1) with biofloc technology as an alternative to reduce cannibalism among matrinxã larvae, which increases productivity and reduces heterogeneity. In the second study, 1400 larvae were reared with 28 HPE in 15 units of 1.6 L of useful volume, at densities of 25, 50 and 100 larvae L-1, with five replicates for each treatment, fed every four hours with nauplii of brine shrimp for 5 days. The increase in larvae density and, consequently, the amount of food, resulted in high concentrations of total ammonia, nitrite, nitrate, sedimentable solids, total suspended solids and turbidity, and a decrease in dissolved oxygen, total alkalinity and pH, while temperature and hardness total did not show significant differences. The performance results of the larvae in the different treatments did not show significant differences in survival, with the best zootechnical indices being observed in the highest densities, treatments fertilized with sugar (plus heterotrophic bacteria). However, in relation to morphology, all densities showed the same pattern of development, without detection of type II cannibalism, maintaining homogeneity in the treatments. The results suggest that matrinxã larvae can be reared for 5 days in biofloc systems under the proposed conditions, without water exchange, up to 50 L-1 larvae, but for the production of 100 L-1 larvae, partial renewal water is suggested, due to high levels of nitrogen compounds. Thus, it is concluded that the BFT system is favorable in matrinxã hatchery, where it increases productivity and homogeneity, reducing cannibalism, facilitating water management and reducing its use.