A narrativa brasileira contemporânea propõe vários desafios no que diz respeito à sua análise.
Entre eles destaca-se a reverberação do contexto mercadológico na produção de obras
juvenis. Nesse contexto, a presente tese analisa, interpreta e categoriza as configurações do
projeto literário do escritor gaúcho Luís Dill (1965) no entrecruzamento de arte e indústria
cultural, procurando compreender como se constitui o capital simbólico correspondente à
produção da literatura juvenil produzida pelo escritor. A pesquisa é de perspectiva
bibliográfica, com um corpus de 31 obras submetidas à grade de análise literária desenvolvida
por Ceccantini (2000), tendo constituído a base metodológica para formularmos as primeiras
categorias de análise da estética do escritor gaúcho. Os conceitos de Candido (1980),
Bourdieu (1996), Cruvinel (2009), Villa-Forte (2019), Benjamin (2000), Eco (2001), Borelli
(1996), Pellegrini (1999) entre outros estudiosos da área, foram nosso suporte teórico para se
examinar a relação entre escritor, mercado, obra e leitor. Diante dessas reflexões, evidenciouse que Dill é um autor que se formou e se forma à medida que o mercado interfere em sua
produção, posto que é um escritor que consegue manter uma relação harmoniosa e
significativa com o mercado editorial. O escritor gaúcho se submete às regras do jogo da arte,
correspondendo não só aos aspectos almejados pelo mercado e o público, mas também aos
seus, enquanto escritor engajado em formar leitores e produzir uma literatura de qualidade.
Além disso, conceituamos o diálogo direto que Dill faz com os textos clássicos e a integração
da linguagem das redes sociais e cinematográficas na estrutura do texto literário. Tais
aspectos funcionam como modificadores da estrutura do romance juvenil, o que nos levou a
questionar e refletir sobre a unidade do gênero e como ele se molda para corresponder às
expectativas do público. Portanto, o projeto literário de Luís Dill apresenta-se como
pluridimensional, posto que integra múltiplas linguagens para significar e potencializar a
estrutura do texto e a fruição do leitor. Dill configura-se, assim, como um escritor de nosso
tempo, com um olhar sensível para se apropriar daquilo que nos é contemporâneo,
ressaltando valores estéticos e sociais no conjunto das suas obras.