Entre os mais de vinte romances publicados em seus setenta anos de vida literária, Jorge Amado
produziu ao menos cinco títulos que tratam diretamente da cultura cacaueira no sul baiano. São eles
Cacau (1933); Terras do Sem Fim (1943); São Jorge dos Ilhéus (1944); Gabriela, cravo e canela
(1958) e Tocaia Grande (1984). Assim, mesmo que o romancista não se refira a esse conjunto de
narrativas como ciclo, a crítica tende a reconhecê-lo como tal. Desse modo, enxergamos nessa série
de romances um esforço de interpretação estética da modernização do Brasil, entre outras razões,
porque Jorge Amado nunca abandonou seu projeto literário de 1930, de escritor da Revolução de 30,
qual seja, a problematização ficcional da modernização conservadora; os agravos de um país
subdesenvolvido, de atraso material e cultural, de valores e costumes arcaicos, de passado
escravocrata. Em síntese, uma nação que mesmo vivenciando uma fase modernizante, conserva em
sua base de sustentação subsídios originários dos já idos tempos coloniais. Destarte, portanto, nesse
estudo, pretendemos entender o ciclo do cacau de modo alargado, encarando-o como estratégia
narrativa de conhecimento, de revelação, de figuração dos tensionamentos, dos impasses formativos
de um Brasil moderno, às avessas. Para tanto, partiremos da hipótese de que o ciclo do cacau
ampliado trata da passagem problemática de um país rural para um país urbano, de maneira a figurar
as tensões objetivas e subjetivas, especialmente entre as personalidades dos coronéis (fazendeiros/
latifundiários) e seus herdeiros, seus trabalhadores, seus adversários, como os exportadores
(comerciantes/financistas). Um embate que representa o movimento histórico típico das mudanças
estruturais brasileiras ao longo do século XX. Para tal, nos valeremos dos estudos teóricometodológicos e críticos de Marx e Engels, Lukács, Candido, Caio Prado Jr., Nunes Leal, Assis
Duarte, Luís Bueno, entre muitos outros.