A violência é uma categoria de significação que está sempre aberta a acolher
novos significados. Dentre esses significados, está a violência por parceiro íntimo
(VPI), que corresponde a atos de violência em relações íntimas independente da
configuração do relacionamento, sendo reconhecida internacionalmente como uma
violação dos direitos humanos. Partindo desse norte, o objetivo desta tese foi
compreender os significados da VPI para um grupo de homens que se relacionam com
homens (HRH) em Manaus - AM, com inspiração no pensamento sistêmico, também
conhecido como o novo paradigma da ciência, que visa romper com os modelos
tradicionais de produção de conhecimento, considerando o contexto e o papel do
pesquisador nessa empreitada, fugindo de reducionismo de uma suposta "objetividade e/
ou neutralidade científica". Metodologicamente, esta é uma pesquisa qualitativa
dividida em um aspecto teórico e um outro empírico, todos sendo orientados de maneira
qualitativa. A tese é dividida em três momentos: Inicialmente foi realizada uma
problematização teórica sobre como o Estado brasileiro (não) lida com a VPI entre
pessoas homossexuais, sendo essa, uma maneira que o poder público tem de facilitar a
morte desses sujeitos. O segundo momento diz respeito a uma revisão integrativa da
literatura para ampla análise das publicações no formato de artigos sobre o objeto de
pesquisa no seu contexto. Encontramos fatores psicossociais como gênero, a raça, o uso
de álcool e outras drogas e questões diádicas como presentes no fenômeno da VPI entre
HRH’s (os produtos desses dois primeiros momentos não estão dispostos esse
documento, pois estão submetidos em revistas científicas). O terceiro momento diz
respeito a um estudo qualitativo onde foram entrevistados oito HRH’s da cidade de
Manaus escolhidos a partir do critério de conveniência a partir da técnica "bola de
neve". Os dados provenientes das entrevistas foram analisados a partir da técnica
chamada Análise temática, que possibilita a organização dos achados em temas amplos
e criteriosos. Como resultados, foram construídos seis temas, a saber: I) Estresse de
Minorias; II) Sexualidade; III) Intergeracionalidade; IV) Performatividade de
Masculinidade; V) Poder e VI) Estratégias de enfrentamento. Os temas trazem a
discussão de diversos fatores psicossociais que estão presentes na VPI entre HRH. A
complexidade da VPI para com esse público envolve o exercício de poder na relação,
através da interseccionalidade entre gênero, raça, classe, religião, estigma de HIV,
dentre outras questões. Outro ponto reverbera sobre a maneira como o Estado não lida
com a VPI desse público, fazendo com que os mesmos vivam um Estado de Exceção
permanente. Ao final das discussões, foi possível elaborar algumas sugestões para a
atuação em políticas públicas de VPI. Como conclusão, foi possível perceber que
algumas dinâmicas da VPI entre HRH podem ser parecidas com a VPI do modelo
heterossexual, mas não há como pensar em um modelo explicativo da VPI entre HRH
de maneira geral, antes, as experiências precisam ser pensadas com um foco contextual,
pois apresentam uma complexidade que a generalização não da conta de explicar.