O vírus Chikungunya (CHIKV) ocasiona a febre de Chikungunya que pode progredir para a fase crônica caracterizada por uma artralgia persistente. Atualmente, não existem antivirais ou vacinas licenciadas contra esse vírus. A própolis vermelha de Alagoas (PVA) é uma resina natural que as abelhas produzem pela mistura de saliva e exsudato de plantas que apresentam atividades antimicrobianas. Portanto, nosso objetivo foi caracterizar quimicamente e avaliar a atividade antiviral da PVA e suas frações hexânica (FH) e acetato de etila (FAE) contra o CHIKV in vitro. Inicialmente, o CHIKV foi isolado do soro na fase de viremia aguda da doença, replicado em células Vero E6 sendo sua detecção confirmada por RT-PCR usando iniciadores para a região genômica da proteína E1 (882 pb). Por meio do sequenciamento de DNA e análise filogenética (software MEGA7), detectou-se o CHIKV como pertencente ao genótipo ECSA (do inglês “East/Central/South African”). A caracterização química da PVA foi realizada por cromatografia líquida de alta performance (HPLC-DAD), detectando-se a presença dos marcadores liquiritigenina, pinobanksina, daidzeina, formononetina, biocanina A e isoliquiritigenina. A citotoxicidade da PVA em células Vero E6 pelo ensaio colorimétrico MTT mostrou uma CC50 para o extrato hidroalcoólico PVA (EH), FH e FAE de 200,1 μg/mL, 22,57 μg/mL e > 40,0 μg/mL, respectivamente. Para os ensaios de atividade antiviral, a adsorção viral foi realizada por 2h em células Vero E6, seguida pelo tratamento com diferentes concentrações de soluções de PVA por 72h e posterior análise de viabilidade celular por MTT. Como resultado, uma atividade antiviral promissora foi detectada e as CI50 do EH, FH e FAE foram 22,80 μg/mL, 4,24 μg/mL e 5,34 μg/mL, respectivamente. Além disso, foram obtidos altos índices de seletividade (IS) para os compostos (HE = 8,7, HF = 5,3 e FAE > 7,5). Para confirmar a atividade antiviral, foi realizada a marcação intracelular do vírus 48h após o tratamento seguido da análise da percentagem de células positivas por citometria de fluxo. Todas as soluções de PVA testadas apresentaram efeito de redução (> 50%) na percentagem de células positivas infectadas. No ensaio de inativação viral, inicialmente suspensões do CHIKV foram incubadas diretamente com a PVA por 2h, seguido da diluição e infecção de células Vero E6 para posterior avaliação pelo ensaio de unidades formadoras de placa (PFU) onde uma redução significativa no número de PFUs foi detectada [4.867 PFU/mL (EH), 12.767 PFU/mL (FH) e 8.867 PFU/mL (FAE) vs. controle viral sem tratamento = 31.000 PFU/mL]. Para avaliar em quais estágios da infecção viral os compostos estariam agindo, as células foram tratadas com PVA ou suas frações por 2h antes da infecção pelo CHIKV, simultaneamente a infecção (0h), ou por diferentes tempos pós-infecção (2h, 4h e 6h). Como resultado, a atividade inibitória foi detectada 2h, 4h e 6h pós-infecção para EH e FH e 2h e 4h pós-infecção para FAE. Para analisar a atividade dos compostos detectados por HPLC-DAD frente as proteínas do CHIKV, foi realizado um ensaio in silico de Docking molecular, como resultado todos os compostos detectados apresentaram como alvo de suas atividades o complexo de glicoproteínas E3-E2-E1 do CHIKV.Assim, os dados obtidos no presente estudo demonstram a promissora atividade antiviral da PVA contra o CHIKV in vitro, contribuindo para o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos para esta arbovirose.