Uma vez que ligantes dos receptores α1-adrenérgicos (α1-ARs) se constituem como um pilar de primeira escolha no tratamento da hipotensão na sepse, buscamos com este trabalho, explorar o comportamento dos α1-ARs nessa condição. A hipótese que embasou a pesquisa é de que a estimulação de α1-ARs por diferentes ligantes pode resultar em uma modulação diferencial para mediadores intracelulares como o óxido nítrico (NO) e o cálcio (Ca2+), afetando a capacidade dos vasos em aumentar o tônus vascular. Utilizamos o modelo experimental de sepse induzida pela metodologia de ligadura e perfuração do ceco (CLP) em ratos, em dois tempos, pós CLP 6 h e 18 h. Avaliamos a responsividade da aorta frente aos agonistas fenilefrina (PE) e noradrenalina (NE), assim como a ativação direta da maquinaria contrátil pelo CaCl2. O receptor α1-AR quando ativado pela PE, resulta em uma hiporresponsividade mais acentuada do que quando ativado pela NE em 6 h após a CLP. A análise da densidade basal do receptor α1-AR através da técnica de marcação com o ligante fluorescente demonstra não haver reduções na densidade deste receptor na sepse. Além disso, a avaliação do efeito da sepse sobre a maquinaria contrátil em anéis de aorta, caracteriza que em 6 h após a CLP, a contração induzida por CaCl2 em líquido despolarizante sem Ca2+ não é reduzida. No entanto, estágios mais avançados da sepse apresentam perda do tônus contrátil ao CaCl2. A exploração das vias de transdução envolvidas denota que o inibidor não seletivo das sintases do óxido nítrico (L-NAME) é capaz de aumentar a responsividade vascular para a PE e NE em anéis de aorta provenientes do grupo controle. No entanto, não foi capaz de aumentar a responsividade vascular frente ao CaCl2. Ao contrário do esperado, em 6 h após a CLP, os inibidores seletivos das sintases de óxido nítrico induzida (iNOS), neuronal (nNOS) 1400W e S-metil-L-tiocitrulina, respectivamente, aumentaram as respostas para a PE, mas não para a NE nem para o CaCl2. A análise em um momento pós CLP mais tardio (18 h), demonstra que o bloqueio da eNOS, iNOS e nNOS é capaz de aumentar a responsividade vascular para todos os vasoconstritores avaliados. De maneira interessante, ao incubar a aorta de animais controle com o doador exógeno de NO, nitroprussiato de sódio (NPS) e construir CCRs (curvas de resposta dependentes da concentração) para a PE e NE, os resultados mostram diferenças em relação à sensibilidade ao NO de um vasoconstritor para o outro. Por outro lado, não encontramos diferenças entre os dois ligantes em relação à entrada de Ca2+ do meio extracelular. De outra forma, uma vez que a maquinaria contrátil já esteja ativada, o bloqueio da entrada de Ca2+ com a nicardipina é suficiente para provocar a perda do tônus vascular nas respostas induzidas por PE, tanto nas preparações controle, quanto sépticas, enquanto nas respostas geradas pela NE o mesmo não é observado. Por fim, verificamos particularidades importantes na sinalização mediada por PE e NE, no qual a NE é capaz de iniciar uma segunda onda de contração após atingir o platô, tanto em aorta de animais controle quanto sépticos. Dessa forma, concluímos que no início da sepse, a diferença de resposta vascular entre os dois ligantes do α1-AR está relacionada a uma modulação diferencial do NO, e que por outro lado, estágios mais tardios estão relacionados a um prejuízo da maquinaria contrátil, e independente do ligante utilizado, há perda do tônus, que é revertida por inibidores das NOS.