As leishmanioses são complexas zoonoses amplamente difundidas pelo mundo. A forma visceral (LVH) constitui-se persistente problema de saúde pública, configurando-se um desafio a redução de sua letalidade por assumir um quadro sistêmico, grave e fatal, principalmente quando associada ao diagnóstico tardio. No Tocantins, o município de Araguaína destaca-se como área de transmissão intensa e para melhor compreensão do comportamento da doença no munícipio, este estudo descreve o perfil epidemiológico da LVH com ênfase no tempo decorrido da suspeição ao tratamento no período de 2015 a 2019. Para tanto, foi realizada uma pesquisa no banco de dados da Secretaria Municipal de Saúde de Araguaína e no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, incluindo apenas informações dos casos novos de residentes no município desconsiderando situações de recidivas. Seguiu-se com as tabulações e posteriormente foram gerados mapas geográficos de distribuição de casos por bairros através do software QGIS® 3.4.10. A análise estatística foi descritiva e inferencial, por meio do risco relativo (RR), como medida de força de associação para o óbito, sendo calculado com os respectivos intervalos de confiança (IC 95%) estimados pelo teste de Wald, utilizando-se a função riskratio.wald() do pacote epitools no software R© versão 3.6.1. Os intervalos de tempo transcorrido da suspeição ao tratamento foram representados em dias pelo diagrama de caixa em medianas (Md) comparando-se o grupo total dos registros, grupo compostos por crianças, adultos, os que obtiveram cura e aqueles que vieram a óbito. Os resultados revelaram 191 confirmações de LVH, informados pela UPA Anatólio Dias Carneiro (59%) e Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (28%), atingindo mais crianças (57,6%), o sexo masculino (58%), e pardos (88,5%) residentes, na sua maioria, no setor Araguaína Sul, com incidência mais alta no setor Daiara. Não houve associação significativa de risco de morte por sexo, escolaridade, raça ou cor, sendo significativa apenas por idade (p< 0,001) nas faixas etárias de adultos jovens (RR= 16,09) e idosos (RR=7,08). Na análise do tempo da suspeição ao tratamento, crianças tiveram intervalos mais curtos (0-35 dias, Md= 12) em contraste com pacientes mais velhos (4-44 dias, Md=18) e naqueles que evoluíram ao óbito (7-65 dias; Md=20) realçando maior inoportunidade para a cura nestes dois últimos grupos. Foi possível averiguar que embora tenha transcorrido menores intervalos para suspeição e intervenção terapêutica de LVH em Araguaína comparando-se aos dados nacionais, existe ainda a necessidade de encurtamento desse tempo de espera, por meio de ações de educação em saúde e facilitação ao acesso aos serviços com fortalecimento da rede de assistência à saúde no
município.