Inscrita na contemporaneidade, momento em que novas produções literárias de autoria
feminina na América hispânica têm encontrado maior visibilidade, a escritora Samanta
Schweblin é tida como uma das mais importantes figuras das primeiras décadas do século XXI,
na Argentina. Sua singularidade narrativa, em sua contística e romances, é percebida ao retratar
o insólito em situações cotidianas através de temáticas que envolvem as relações humanas,
provocando inquietações, no limiar entre o realismo e o fantástico. Considerando o valor da sua
produção literária no cenário atual, o presente trabalho tem o interesse de discorrer sobre as
representações do feminino na narrativa contemporânea, centrado na mulher enquanto escritora
e personagem, a partir da produção literária de Samanta Schweblin. O estudo sobre a
representação das personagens femininas nos contos da autora será analisado sob a perspectiva
de como as personagens da contemporaneidade se contrapõem aos estereótipos tradicionais, no
que se refere à temática da maternidade e do matrimônio. Também contemplará um recorte da
produção de escritoras da América Hispânica que antecedem a Schweblin. No corpus da
pesquisa foram selecionados contos que trazem o protagonismo da mulher frente aos dramas
humanos: “Mujeres desesperadas”, “En la estepa”, “Conservas” do livro “Pájaros en la boca y
otros cuentos” (2018) e “Nada de todo esto” e “Salir” do livro “Siete casas vacías” (2015). O
respaldo teórico voltado para a Crítica feminista anglo-americana será visto a partir dos
trabalhos de Kate Millett (1974), Toril Moi (1988), Sandra Gilbert e Gubar (1974), por tratarem
das representações da mulher na literatura, assim como Judith Butler (2010), Teresa de Lauretis
(1994) e Joan Scott (2008) por trabalharem a noção de gênero como algo socialmente
construído. No tocante aos estudos sobre casamento e amor, o nosso referencial teórico atenderá
às concepções de Simone de Beauvoir (1967), Michael Foucault (1985), Judith Butler (2003) e
no que refere às questões sobre maternidade, utilizaremos os conceitos de Mary Wollstonecraft
(1966), Elizabeth Badinter (1985;2011), e Cristina Stevens (2005; 2007), dentre outras.
Centrada na representação da mulher atual na literatura como forma de entender o presente
momento e as mudanças das relações de gênero, buscou-se uma ruptura com os estereótipos
tradicionais, com vistas a ampliar as possibilidades de leituras dos papéis que as mulheres têm
desempenhado. A representação das personagens femininas, no campo do literário, passa por
uma transformação de ser um mero agente passivo para um lugar de protagonismo