Acredita-se que os manguezais sejam indispensáveis para a produtividade das pescarias costeiras, atuando como áreas de berçário e desempenhando papel significante na ecologia de várias espécies de peixes tropicais de importância econômica e ecológica. Contudo, essas florestas continuam enfrentando diferentes processos de degradação e ainda que o uso dos manguezais pela ictiofauna seja bem documentado, raramente essa abordagem é usada para analisar a relação entre o estado de conservação do habitat e a pesca. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é avaliar a influência do estado de conservação dos manguezais sobre as populações de peixes com interesse ecológico e econômico do município de Acaraú – CE, bem como caracterizar as espécies associadas a esses ambientes. Para isso, foram realizadas amostragens bimestrais, entre os meses de julho/2019 a maio/2020. As coletas foram realizadas utilizando tarrafas, sempre durante a baixa-mar de sizígia. Todos os peixes capturados foram colocados em sacos plásticos previamente identificados com os dados de cada canal amostrado e armazenados em caixas de isopor com gelo para transporte até o laboratório, onde foram identificados, medidos e dissecados. Ao todo, foram coletados 1.713 indivíduos, distribuídos em 37 espécies, 27 famílias, 14 ordens e 2 classes. As famílias Gerreidae e Lutjanidae foram as mais representativas no estuário, compreendendo juntas 58,14% das amostragens. Mais de 80% das espécies amostradas nos bosques de mangue são de interesse econômico para Acaraú. Espécies ameaçadas de extinção também foram registradas, tais como: Megalops atlanticus, Hippocampus erectus, Lutjanus analis, Lutjanus jocu e Mycteroperca bonaci. A ictiofauna apresentou variações em sua composição de acordo com o estado de conservação dos quatro bosques de mangue estudados, principalmente na abundância de indivíduos. Porém, não houve diferenças sazonais na composição da ictiofauna e das variáveis ambientais. A salinidade e o Índice de Intensidade do Desenvolvimento da Paisagem (IDP) foram as principais variáveis ambientais responsáveis pela distribuição e composição da ictiofauna. As espécies Eucinostomus argenteus, Lutjanus jocu e Lutjanus alexandrei foram dominantes no estuário durante todo período amostral, compreendendo juntas 39,98% das amostragens totais. Para as categorias tróficas, a maior representatividade foi das espécies Piscívoras/Zoobentívoros, compreendendo 48,56% das amostragens. Enquanto nas categorias tróficas, a maior representatividade foi das espécies Piscívoras/Zoobentívoras, compreendendo 48,56% das amostragens. Não houve diferenças sazonais e espaciais significativas entre a dominância de espécies e as categorias ecológicas e tróficas. Somente as espécies Batrachoides surinamensis, Lile piquitinga, Lycengraulis batesii, Sphoeroides testudineus e Strongylura timucu
apresentaram gônadas aptas a reprodução, compreendendo 7,19% das amostragens. Contudo, aproximadamente 92% da ictiofauna foi composta por indivíduos jovens que utilizam a ictiofauna como áreas de berçário. Os quatro bosques de mangue estudados apresentaram condições propícias ao crescimento e estado de higidez das espécies avaliadas. Porém, o bosque de mangue em Arpoeiras, com os menores valores de IDP ofereceram melhores condições que os bosques de mangue mais degradados.