Introdução: A relação entre o bem-estar subjetivo e a dor musculoesquelética crônica (DMC) é pouco conhecida. O bem-estar subjetivo é um estado afetivo de longo prazo, cujos componentes incluem o afeto positivo, o afeto negativo e a avaliação da própria vida ou satisfação com a vida. A DMC é geralmente definida como a dor de duração maior que 3 ou 6 meses, sendo classificada como primária quando representa a doença por si só, ou secundária quando faz parte de processo de adoecimento que afeta ossos, articulações, músculos. A presente tese investigou a associação de dois componentes do bem-estar subjetivo, sintomas depressivos e satisfação com a vida, com a DMC no joelho acompanhada ou não de incapacidade (artigo original 1). Também foi investigada a associação entre a satisfação com a vida e a presença e gravidade da DMC, investigada em nove sítios corporais (artigo original 2). Métodos: Foram realizados dois estudos transversais com dados coletados durante a linha de base (2012-2014) da coorte ELSA-Brasil Musculoesquelético (ELSA-Brasil MSK). No artigo original 1, a DMC no joelho foi categorizada segundo a presença ou não de incapacidade avaliada por pergunta sobre limitações para realizar as atividades diárias devido à dor (geral), pela subescala de função do WOMAC (atividades diárias) e pelo teste sentar levantar repetido (objetiva). No artigo original 2, a DMC em um ou mais sítios foi caracterizada segundo a presença de incapacidade geral, necessidade de uso de serviço de saúde (DMC problemática) e espalhamento (DMC em múltiplos locais e DMC generalizada). Os sintomas depressivos foram avaliados pelo questionário Clinical Interview Schedule, Revised (CIS-R) e a satisfação com a vida pela escala de Satisfação com a Vida. As associações foram estimadas por regressão logística binomial para DMC no joelho e em qualquer local (artigo original 1 e 2, respectivamente), e por regressão logística multinomial para todas as demais variáveis resposta. Resultados: A amostra incluiu aproximadamente 3.000 participantes, com média de idade de 56 anos (+/- 9 anos) e leve predominância de mulheres (53%). Após ajuste para fatores sociodemográficos e clínicos, sintomas depressivos se associaram positivamente à DMC no joelho acompanhada de incapacidade para atividades diárias, avaliada pela subescala de função do WOMAC (OR: 2,30; IC 95% 1,45 – 3,66) e incapacidade objetiva, avaliada pelo teste sentar levantar repetido (OR: 1,95; IC 95% 1,29 – 2,93). No artigo original 1, a satisfação com a vida se associou inversamente à DMC no joelho independentemente da presença de incapacidade (medida por qualquer instrumento), embora associações de maior magnitude tenham sido observadas quando a dor era acompanhada de incapacidade. Resultado semelhante foi observado no artigo original 2, no qual a satisfação com a vida associou-se inversamente à DMC em qualquer local (OR: 0,95; IC 95%: 0,94-0,97), sendo a magnitude da associação mais forte para DMC de maior gravidade: DMC acompanhada de incapacitante geral (OR: 0,94; IC 95%: 0,92-0,96); DMC em múltiplos locais (OR: 0,93; IC 95%:0,91-0,95); DMC generalizada (OR: 0,93; IC 95%: 0,90-0,96). Conclusão: Os achados dos estudos incluídos nessa tese indicam a importância de se considerar tanto os aspectos negativos (depressão) quanto positivos (satisfação com a vida) do bem-estar subjetivo durante a avaliação de indivíduos com DMC, especialmente na presença de apresentações clínicas mais graves.