O objetivo desta pesquisa foi contribuir com o estudo sobre o conhecimento das populações
amazônicas e suas estratégias de conservação do sistema ambiental. A base metodológica utilizada
foi o estudo de múltiplos casos, complementada por metodologias auxiliares de análise, assim como,
por diversas técnicas e instrumentos de coleta de dados. O paradigma da complexidade sistêmica de
Edgar Morin, foi o pilar epistemológico desta pesquisa, norteando as entrevistas, os levantamentos, as
oficinas, os grupos focais, as trilhas culturais, as observações e a vivência do cotidiano de vida dos
sujeitos. Os casos escolhidos foram as comunidades São José, em ecossistema de várzea, e a
indígena de Nova Aliança, em ecossistema de terra firme, ambas localizadas no município de Benjamin
Constant, região do Alto Rio Solimões, Amazonas. As incursões a estes lugares foram realizadas no
período de 2016 a 2019, buscando-se fazer uma imersão profunda quanto ao modo de vida dos
moradores, assim como, suas formas de manejo e uso dos bens comuns, da mesma maneira que,
seus processos de autoecoorganização junto ao sistema ambiental onde estão inseridos. Os
moradores destes lugares são agricultores familiares, vivendo do trabalho nos agroecossistemas,
desenvolvendo plantios de espécies variadas nas roças, nas capoeiras e nos quintais/sítios, além de
extraírem da floresta material vegetal e animal (pela caça), complementando a alimentação e
garantindo a sobrevivência de suas famílias. O rio é um “capítulo” à parte devido a essencialidade na
vida dos agricultores destas comunidades. Por ele, são observadas a subida e a descida das águas,
por ele também, se vai ou se chega, e por intermédio dele, se extrai a principal fonte da alimentação
dos moradores das duas comunidades: o pescado. Os levantamentos e as análises dos dados
coletados em campo, evidenciaram que em São José e em Nova Aliança, o cotidiano vivenciado e
trabalhado nos agroecossistemas familiares, explicitam estratégias desenvolvidas pelos agricultores,
diante das emergências que surgem. Essas estratégias emergem a partir do saber apreendido ao longo
de gerações, no manejo da agrobiodiversidade e biodiversidade local, onde esses agricultores
familiares indígenas e não indígenas, vão transformando o ambiente em paisagens
agroecossistêmicas, nas quais concretizam suas escolhas, experimentações e decisões, vivificando e
propagando um processo de conservação, que promove a sustentabilidade ambiental. Os agricultores
sobrevivem além do consumo, daquilo que plantam ou extraem, a partir de uma renda composta pela
venda do excedente de produção ou extração, pelos benefícios sociais oriundos do governo e por
atividades pluriativas desenvolvidas nas escolas, postos de saúde, prefeitura, nos estabelecimentos
comerciais existentes nas próprias comunidades e pelo comércio ambulante praticado que
comercializa, principalmente iguarias locais. Essa movimentação que imprime dinamicidade às duas
comunidades, foi denominada “Etnoeconomia”, a partir de conceitos estabelecidos por Cavalcanti
(2001), Rodrigues (2008) e Noda, S. (2000). E esta “economia local Amazônica”, que tem suas
especificidades dependentes da cultura das populações de cada localidade, assegura e torna possível
gerir de forma eficiente o uso dos bens comuns, a partir da atribuição de um valor de utilidade, pelo
qual perpassa a necessidade de conservação exercida nestas comunidades. Logo, a aplicação prática
do saber dos agricultores familiares indígenas e não indígenas de São José e Nova Aliança, em seus
processos de autoecoorganização social, cultural, econômica e ambiental, evidenciada neste estudo,
fornecem informações importantes sobre conservação e sustentabilidade em comunidades
amazônicas, e como seu modo de vida e etnoconhecimento imprime valor aos bens comuns acessados
e manejados de forma coletiva.