A leptospirose é uma enfermidade que acomete pessoas em vulnerabilidade
socioeconômica e animais em todo o mundo, causando um problema de saúde
pública. Desta forma, esse estudo objetivou realizar revisão sistemática de 10 anos
sobre as situações que contribuem para o descaso na ocorrência da leptospirose
nos países da América do Sul, caracterizar epidemiologicamente a ocorrência da
leptospirose em pessoas residentes no estado do Pará (período de 2007 a 2017),
assim como identificar a incidência da doença nos Centros Regionais de Saúde
(CRS), e analisar o atendimento médico e perfil de evolução clínica de pacientes que
evoluíram para a cura ou óbito por leptospirose no estado do Pará no mesmo
período. Na revisão sistemática foram localizados 682 estudos, dos quais foram
incluídos 88 artigos. Os países que mais apresentaram estudos foram o Brasil
45,45%, seguido da Colômbia 21,59% e o Peru 11,36%, em detrimento da Bolívia e
Suriname que não apresentaram resultados. Também foram investigadas as
frequências de variáveis epidemiológicas referentes à leptospirose nos 13 Centros
Regionais de Saúde, onde a média de incidência variou de 0 a 30,69 casos/100.000
hab, cuja maior frequência ocorreu nos meses de janeiro a julho (71,95%), em
homens (76,65%), na faixa etária de 20 a 39 anos (40.03%), escolaridade até o
ensino fundamental (39,58%). A atividade ocupacional de estudantes (18,8%),
contato/limpeza de local com sinais de roedores (63,61%) e ambiente de infecção
domiciliar (46,70%) em áreas urbanas (88,17%) foram os mais frequentes.
Adicionalmente, utilizamos a técnica Bayesiana para avaliar os casos de
leptospirose humana em pacientes que tiveram cura ou evoluíram para a morte no
estado do Pará (período 2007 a 2017). Identificamos que nos casos em que houve
cura, foi mais provável a utilização de critério clínico laboratorial (80.91%), em
detrimento dos que evoluíram para o óbito e tiveram diagnóstico clínico (51.72%).
Apesar da maior probabilidade de ter sido menos de 14 dias nas etapas de
assistência médica, os casos em que houve evolução para óbito apresentaram
maior probabilidade de sintomatologias mais complexas como insuficiência
respiratória (57.12%) e renal (49.85%). Em ambos os casos, a área mais provável
de infecção foi a urbana, no ambiente doméstico, tendo sido mais provável o contato
com local com sinais de roedores, e contato com água ou lama. Concluímos que a
exposição à água ambiental, inundações e solos contaminados com a bactéria,
assim como exposição por atividades ocupacionais e em ambiente com saneamento
deficiente favorecem a infecção humana na América do Sul. No estado do Pará, a
leptospirose está relacionada à deficiência do saneamento básico, à necessidade de
capacitação dos profissionais de saúde na suspeita dos casos e confirmação
laboratorial. Adicionalmente, é necessário reduzir o intervalo de tempo no
atendimento de assistência à saúde e implementar a realização de diagnóstico
clínico complementado pelo laboratório, para maior eficácia no tratamento
terapêutico e redução dos óbitos. E por fim, sugerimos a adoção de políticas
públicas no intuito de evitar o registro incompleto das informações no sistema
brasileiro de notificação da leptospirose e de políticas públicas eficazes contra a
doença.