A religião vem sendo alvo de inúmeros estudos na atualidade, principalmente pelo crescimento das Igrejas Evangélicas pentecostais e neopentecostais, que se acelerou consideravelmente a partir de 1980. A fé está relacionada ao ser crente, a crer em algo além, que ultrapasse a materialidade da vida humana, e isso nos leva a questionar como ela é capaz de guiar as ações humanas a partir de preceitos bem delineados e definidos pelas igrejas, como também constituir as subjetividadeshumanas. Pensar em subjetividade, no sentido marxiano, é pensar em uma relação recíproca e complexa entre sujeito e objeto, onde se constroem e se transformam ao mesmo tempo, porém, compreendendo que a prioridade ontológica é do objeto. Investigar, portanto, a prática dos fiéis nos permite estudar essa relação dialética entre objetividade e subjetividade. Tendo como foco de pesquisa o contexto religioso, entendemos que, no agir e pensar dos indivíduos da classe trabalhadora que professam a fé evangélica, opera uma prática intencional guiada por um conjunto de preceitos mediados por uma relação de certeza no poder de um serextra-humano, deus. Isso posto, objetivamos, neste trabalho, apreender as possibilidades objetivas produzidas pela Igreja Universal do Reino de Deus, referência neopentecostal brasileira, que constituem a subjetividade dos fiéis. Para tanto, investigamos o ideário religioso que guia as práticas dos fiéis; apreendemos as práticas dos fiéis; e analisamos a relação entre ideologia e as práticas produzidas pela Igreja Universal do Reino de Deus. Discutimos, também, algumas categorias a partir da perspectiva marxista, como prática, subjetividade-objetividade, consciência, afetividade, ideologia e religião. Entendemos como a fetichização dedeus cria a ideologia da fé que produz as práticas estranhadas dos fiéis. O ser que produz a atividade religiosa não se reconhece enquanto produtor da mesma. Este é o fenômeno do estranhamento. O ser estranho ao qual pertence a atividade religiosa e a religião, para a qual a atividade religiosa está a serviço e para a fruição da própria religião, só pode ser o próprio ser humano. Na atividade religiosa, o ser humano para de se relacionar como humano com a própria humanidade. Assim, a efetivação da humanidade se dá ao reconhecer a humanidade no outro, mas o outro, na religião, não é o outro ser humano, é deus. E ele é a expressão mais clara, atual, da desefetivação da humanidade. O ser humano, assim, engendra sua própria produção [a religião] para a sua desefetivação. Para tanto, afirmamos a necessidade de superação da religião, mas consideramos que ela não é suficiente. Nosso objetivo deve ser a emancipação humana. Devemos superar as condições que mantêm necessárias a relação humana com a religião, aqui, o capitalismo. A atividade religiosa é, portanto, uma contribuição à nossa desumanização, mas já estamos em condições desumanas desde nossa condição-determinação de reprodução da vida em um sistema capitalista. A religião é só mais uma forma desenvolvida paranos manter estranhados e sem consciência efetiva diante do capital. Porém, não aceitaremos essas condições. Ao termos consciência da realidade material, se faz necessário lutar contra essas formas ideológicas que nos acorrenta aos pés do fetiche maior, o pai de todos os fetiches, o capital. E essa luta não se faz nos céus nem no inferno, se faz é aqui e agora