O manejo da castanha-da-amazônia (Bertholletia excelsa) é uma atividade tradicional que
representa papel chave tanto na economia de milhares de famílias extrativistas da Amazônia
como na conservação das florestas. No estado do Acre, apesar de existir uma cadeia produtiva
bem estruturada e da valorização do produto no mercado, algumas ameaças e pontos críticos
relacionados à sustentabilidade do manejo deste recurso natural merecem ser estudados e mais
bem compreendidos. A crise socioambiental, as mudanças climáticas, as constantes ameaças
do desmatamento e da conversão de áreas de florestas em pastagens na Amazônia estão nessa
lista. Junto a estes fatores somam-se as oscilações naturais da produção da castanha-daamazônia e algumas fragilidades nas dinâmicas sociais e de governança que envolvem esses
sistemas de manejo. Nesse contexto, a pesquisa propõe um olhar para as estratégias de gestão
envolvidas no manejo dos castanhais nativos e como estas se inter-relacionam com aspectos da
sustentabilidade desta atividade no longo prazo. O objetivo principal foi analisar a
implementação do método MESMIS na definição participativa de indicadores para o
monitoramento da sustentabilidade do manejo de castanhais nativos, a partir de um estudo de
caso realizado na Comunidade Porvir, inserida na RESEX Chico Mendes, Acre. A pesquisa
buscou integrar as percepções dos extrativistas, pesquisadores, gestores e técnicos na definição
de indicadores que apontassem para aspectos do que é preciso ser sustentado para garantir a
viabilidade do extrativismo da castanha ao longo do tempo. A construção dos indicadores teve
início a partir de um diagnóstico in loco junto à comunidade extrativista participante do estudo
de caso. Durante o processo foram realizadas duas oficinas na comunidade e entrevistas
semiestruturadas com diferentes atores sociais interessados no manejo da castanha, incluindo
profissionais da área técnica. O resultado foi a geração de 18 indicadores estratégicos para
avaliação de sustentabilidade nas dimensões ambiental, técnico-econômica e social
(abrangendo aspectos culturais e políticos). Ainda, foram definidos, com a contribuição de
técnicos e extrativistas, parâmetros de avaliação, representando condições que devem ser
alcançadas ou mantidas para a sustentabilidade do sistema, para cada indicador. Por fim,
realizou-se um exercício de avaliação para quatro castanhais nativos manejados por famílias da
comunidade. A integração de resultados foi realizada em representações com gráficos radiais e
pelo cálculo de índices de sustentabilidade. Pode-se considerar que os castanhais avaliados
apresentaram um desempenho aceitável em termos de sustentabilidade geral, com Índice de
Sustentabilidade Global (ISG) de 7,28; 7,56, 7,11 e 6,78 respectivamente, em uma escala de 1
a 10. Existe, portanto, um espaço de trabalho e ações visando melhorias necessárias para
alcançar o limiar ótimo ou ideal de sustentabilidade. Os principais valores críticos atribuídos na
avaliação dos indicadores estão relacionados à questão da comercialização da castanha para
atravessadores e a oscilação na produção anual de frutos, visto que nos últimos anos foram
registradas safras muito inferiores às médias produzidas pelos castanhais. O emprego do
método MESMIS foi considerado adequado ao contexto estudado, podendo ser recomendado e
adaptado ao manejo de produtos florestais não madeireiros.