Introdução: Pacientes com câncer sofrem alterações metabólicas que contribuem
para redução da integridade celular, desidratação intracelular e aumento do fluido
extracelular. O ângulo de fase (AF) derivado da análise de impedância bioelétrica
(BIA) é considerado um bom indicador de saúde celular, integridade da membrana
celular, função celular e da proporção de líquidos no compartimento extra e
intracelular. Em pacientes com câncer prejuízos no estado nutricional podem
contribuir efetivamente no desenvolvimento de sintomas debilitantes como a fadiga.
Tendo em vista que o AF é um bom parâmetro para a avaliação da integridade e
hidratação intracelular, os objetivos desse estudo foram: (i) verificar a associação
entre o AF e a fadiga; (ii) verificar a associação entre o AF e a fadiga após o ajuste
para o acúmulo de líquido extracelular e (iii) avaliar a prevalência de fadiga.
Metodologia: Estudo transversal realizado com 124 pacientes de ambos os sexos em
tratamento de câncer (quimioterapia ou cirúrgico). Foram coletados dados de peso
corporal, altura, índice de massa corporal (IMC), força de preensão manual (FPM),
performance status e presença de caquexia. Adicionalmente, a composição corporal
foi avaliada por meio da BIA para obter dados sobre o nível de hidratação extracelular
e o AF. O ponto de corte utilizado para classificar os pacientes com baixo AF foi
definido <4o. Para identificar a fadiga, foi aplicado o questionário Functional
Assessment of Cancer Therapy Fatigue (FACT-F). Resultados: Dos 124 pacientes
avaliados n=98(79%) eram homens e do total 26% apresentaram fadiga. A prevalência
de fadiga foi maior entre os pacientes com AF <4o (65,63%). Nas análises de
regressão logística, nós observamos que pacientes com AF> 4 o apresentaram menor
risco de fadiga (OR: 0,92 IC95% [0,86-0,99], p = 0,03), porém após ajustes pelo
percentual de perda de peso em 6 meses, idade, sexo e hidratação extracelular,
perdeu-se a associação (OR: 0,94 IC 95% [0,85-1,04], p = 0,26). Conclusões:
Aproximadamente 26% dos pacientes com câncer apresentavam fadiga, sendo que
esta prevalência foi maior entre os pacientes com AF <4 o (65,63%). No entanto, não
foi encontrada associação entre o AF a fadiga, visto que pode sofrer influência do
acúmulo de líquido extracelular, muito comum nesses pacientes.