Contextualização: a avaliação de fatores limitantes ao exercício, como fadiga e dispneia, durante testes de campo é realizada por meio de escalas especificas, visando um feedback e segurança ao profissional durante sua condução. Esses instrumentos identificam a resposta dos indivíduos na execução dos testes, sejam eles saudáveis ou doentes crônicos. No entanto, são escassas as escalas de percepção de esforço para população pediátrica, na língua portuguesa do Brasil, e com propriedades psicométricas validadas, o que dificulta o controle dessas medidas e, por consequência, da sintomatologia durante o exercício nessa população. Nesse contexto, esse estudo teve por objetivo validar o conteúdo da escala de percepção de esforço para criança (EPEC), bem como sua aplicação em um teste de exercício de potencial máximo, em escolares saudáveis e com fibrose cística. Metodologia: participaram escolares hígidos (GEH) e com fibrose cística (GFC) com idades entre 6 e 14 anos. Conduziu-se avaliação antropométrica e de função pulmonar com exame de espirometria, segundo a American Thoracic Society (ATS). Foram conduzidos dois protocolos do Modified shuttle walk test (MSWT), com intervalo de 30 minutos ou até o retorno dos parâmetros cardiorrespiratório próximos aos valores basais. Para avaliação da percepção de esforço aplicou-se a escala modificada de Borg (BORGm) e a EPEC. As escalas foram aplicadas em ambos os testes, no momento inicial (EPECi), no 4º (EPEC4), 8º (EPEC8) e 12º minuto (EPEC12) e, imediatamente após a finalização do teste (EPECf). A validação do conteúdo foi realizada por um comitê de especialistas na área de fisioterapia cardiorrespiratória aplicada a pediatria. Os dados foram analisados no software IBM SPSS® 20.0 e aplicou-se coeficiente de correlação de Pearson entre as escalas de percepção de esforço para verificar a associação entre as medidas. O cálculo do erro padrão da medida (EPM) foi utilizado para averiguar a estabilidade das respostas. A reprodutibilidade e confiabilidade intra-examinador foram determinadas pelo ICC misto de duas vias e, para avaliação da consistência interna da EPEC utilizou-se o alpha de Cronbach. Para a análise de conteúdo, o índice de validade foi calculado por itens e pelo total do questionário proposto aos especialistas. Para todos os testes adotou-se nível de significância de 5%. Resultados: participaram 32 escolares no GEH e 30 no GFC, com média
de idade 10,14±2,33 e 10,25±2,20 anos, respectivamente. Houve correlação moderada a alta entre as medidas de BORGm e EPEC em ambos os grupos. O ICC do EPEC8 foi moderado no GEH (ICC=0,69/p=<0,001), com boa consistência interna(α=0,82). No GFC, todas as medidas apresentaram reprodutibilidade baixa a moderada (EPECi:0,48; EPEC4: 0,35; EPEC8: 0,57; EPECf: 0,49; p<0,005 respectivamente), com baixa consistência interna. Houve valores elevados de EPM em ambos os grupos. A EPEC apresentou IVC geral da escala de 0.95, bem como IVC por itens ≥0.90. Conclusão: EPEC apresentou validade de conteúdo para avaliação da percepção de esforço em pediatria. Evidenciou-se associação com a BORGm, tanto nos escolares saudáveis como com fibrose cística. Houve reprodutibilidade moderada e boa consistência interna com o aumento do esforço no MSWT nos saudáveis, e baixa a moderada reprodutibilidade com baixa consistência interna na FC, com grande erro padrão de medidas entre os dois MSWT realizados pelos dois grupos.