A música em rituais religiosos tem despertado grande interesse de estudos no meio
acadêmico por áreas de saberes diversificadas, entretanto, no tocante às religiões
Ayahuasqueiras, tal assunto ainda vem sendo pouco explorado. É possível
encontrar uma vasta bibliografia a respeito dessas religiões, mas estudos referentes
à utilização da música em seus rituais ainda são escassos. Dessa forma, essa
pesquisa apresenta um recorte do uso da música lato senso na União do Vegetal
(UDV), com o objetivo de analisar a natureza, a função e o lugar que a palavra
cantada (música, canto, voz) ocupa nessa religião. Assim música e experiência
religiosa instigam o presente trabalho tendo como foco a UDV, uma religião criada
na floresta amazônica, por José Gabriel da Costa, que utiliza em seus rituais um
Chá de nome Hoasca (Ayahuasca), também chamado de Vegetal, considerado
sagrado por seus adeptos. Sob efeito desse chá, durante os rituais, os participantes
das sessões de Vegetal entram em um estado ampliado de consciência em que
podem ter a oportunidade de receber revelações, através de mirações ou de um
mergulho profundo na memória, possíveis de provocar transformações positivas em
suas vidas. Esses rituais são organizados, desde a origem desta instituição, de
forma a privilegiar a tradição oral, buscando “desenvolver a memória”. Nesse
contexto, a música se faz presente formando uma antologia própria dessa religião,
seja através das Chamadas - categoria nativa que designa uma espécie de cânticos
sagrados evocados durante os rituais -, de músicas instrumentais ou através da
seleção criteriosa de algumas canções do ‘universo cultural brasileiro’. Para auxiliar
nessa empreitada, serão utilizadas, como base teórica, as ideias de Edil Silva Costa,
Hampate Bâ, Paul Zumthor, dentre outros que compõem essa vasta epistemologia
sobre as poéticas orais e sobre as religiões Ayahuasqueiras.