A temática desta pesquisa se insere no debate sobre as condições de trabalho docente, com foco em questões de gênero, a fim de compreender as repercussões de relações de gênero sobre o trabalho de professoras dos anos finais do ensino fundamental na rede pública municipal de São Paulo. Analisando a história das mulheres na educação, constata-se que o acesso destas à escolarização foi permitido tardiamente e a educação destinada a elas era diferenciada da oferecida aos homens. Pode-se perceber que a feminização do magistério ocorreu ao mesmo tempo em que o trabalho docente se tornou mais precarizado e desvalorizado. Parte-se do entendimento que, em uma sociedade patriarcal, o trabalho feminino é considerado de menor valor e prestígio. Sendo assim, a escola como reprodutora das desigualdades sociais é um ambiente onde práticas machistas e sexistas são reproduzidas e, muitas vezes, naturalizadas. Diante do exposto, adota-se a concepção do materialismo histórico, como abordagem investigativa, e apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: as questões de gênero, existentes dentro e fora da escola, afetam as relações que ocorrem no ambiente escolar e o trabalho docente, podendo, inclusive, promover diferenças na natureza e divisão de atribuições entre professoras e professores? Dentre os objetivos, pretende-se i) verificar, por meio de pesquisa quantitativa, se o sexo interfere na escolarização e função docente; por meio de pesquisa qualitativa investigar: ii) se as relações de gênero existentes fora da escola provocam efeitos sobre o trabalho docente, iii) se as desigualdades de gênero implicam em sobrecarga de tarefas para professoras, iv) se a precarização das condições de trabalho afeta mais as professoras do que os professores e v) as representações das professoras acerca de papéis e estereótipos de gênero em seu trabalho. Para tanto foi realizada pesquisa quantitativa, com análise de dados sobre servidoras (es), fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e pesquisa de campo, com entrevistas semiestruturadas com professoras (es), coordenadoras e diretor em duas escolas de ensino fundamental da rede pública municipal de São Paulo. As (os) principais autoras (es) que darão suporte para as análises como referencial teórico são Joan Scott, Heleieth Saffioti e José Contreras, além de contribuições de outras (os) pesquisadoras (es), como Dalila Oliveira e Michael Apple. A partir de análises feitas, pode-se constatar que professoras (es) estão sujeitas (os) à precarização das condições de trabalho, como perda de autonomia, sobrecarga de tarefas e baixos salários. Também se percebeu que as relações de gênero marcam o trabalho docente nas escolas, estando as mulheres e meninas mais expostas a situações de assédio e discriminação. Ainda pôde-se observar que a maior parte das mulheres possui pós-graduação lato sensu devido ao fato desta formação ser, em grande parte, a distância, permitindo flexibilidade de tempo de dedicação ao estudo. Pode-se notar que as mulheres enfrentam mais obstáculos para estudar, sobretudo mulheres negras, principalmente para realizar formações fora da rede em que atuam, devido ao acúmulo de jornadas de trabalho e tarefas domésticas. Em consequência, as mulheres têm menos possibilidade de movimentação na carreira, de ampliar seus salários e acessar cargos na gestão. Não obstante, o racismo também é marcante no cotidiano da escola. Portanto, as questões de gênero e raça devem ser debatidas tanto nos momentos de formação docente quanto nas aulas da educação básica.