O tempo de tela é uma preocupação crescente nas últimas décadas, e está associado a outros comportamentos de risco à saúde, especialmente entre adolescentes. OBJETIVO: investigar a associação entre tempo de tela, consumo de alimentos e índice de massa corporal (IMC) em adolescentes matriculados na rede de ensino estadual em Curitiba/PR. MÉTODOS: trata-se de um estudo transversal, analítico. Os alunos preencheram questionário e os dados antropométricos foram aferidos. O tempo diário de tela de cada dispositivo: televisão, videogame e telas portáteis (computador, tablet e celular) foi estimado, e classificado como excessivo quando maior que duas horas diárias. O consumo alimentar foi avaliado por meio de questionário de frequência semanal e a renda do entorno escolar (500 metros), a partir do Censo de 2010. A qualidade do ambiente construído para atividade física foi investigada pela observação sistemática do entorno das escolas, por meio do escore do MAPS - Auditoria em Microescala de Ruas de Pedestres. Regressão de Poisson multinível e análise de cluster foram empregadas nas análises. RESULTADOS: descritos em dois grupos principais de achados. A) A prevalência de tempo excessivo de TV (56,5%) foi associada à pior qualidade da alimentação. A prevalência de tempo excessivo de videogame (22,0%) foi menor no sexo feminino (RP 0,25; IC95% 0,18;0,36; p<0,001), esteve associada à menor prevalência de dieta de melhor qualidade (RP= 0,70; IC95% 0,55;0,90; p=0,010), e foi menor nas escolas de maior renda (RP 0,60; IC95% 0,47;0,78; p=0,004) e escore médio (RP 0,72; IC95% 0,59;0,88) e alto (RP 0,74; IC95% 0,56;0,96) do MAPS. O tempo excessivo de telas portáteis foi de 53,2% e apresentou tendência de elevação com a renda no entorno da escola. B) foram identificados quatro clusters de comportamentos relacionados ao tempo de telas e consumo alimentar, por sexo. Para o sexo feminino: 1) TV e Telas Portáteis (21,8%); 2) Refrigerantes e Doces (22,6%); 3) Baixo Tempo de Telas e Consumo de Alimentos (32,8%) e 4) FVL (frutas, verduras e legumes) (22,8%). Para sexo masculino: 1) Baixo Tempo de Tela Consumo de Alimentos (40,7%); 2) Telas (20,2%); 3) Refrigerantes e Doces (25,1%) e 4) FVL (14,0%). Após análise ajustada, observou-se que adolescentes do sexo masculino em cluster caracterizado por maior uso de telas (Coef -0,43, IC: -0,78; - 0,08, p=0,017) apresentaram menor IMC/idade do que aqueles no cluster com baixo tempo de telas e consumo de alimentos; e para o sexo feminino os clusters: TV e telas portáteis (Coef. -0,23, IC: -0,44; -0,02, p=0,029) e maior consumo de refrigerantes e doces (Coef -0,40, IC: -0,72; -0,08, p=0,017) apresentaram menores escores Z do IMC/idade. CONCLUSÃO: as associações entre os dispositivos e as características dos alunos, da alimentação, renda, e qualidade do entorno da escola variaram com o tipo de aparelho em uso excessivo. Os adolescentes em clusters caracterizados por comportamentos de risco para obesidade apresentaram menor IMC para idade em ambos os sexos. As relações entre os diferentes dispositivos e as características estudadas, destaca a importância de abordagens complexas para entendimento do uso de telas por adolescentes.