Embora a bicicleta possua um raio restrito de circulação confortável ao usuário, os
benefícios deste meio de locomoção superam seus condicionantes negativos. Além
de auxiliar na redução dos impactos ambientais gerados pelo transporte motorizado,
demandante de combustível fóssil, a bicicleta é considerada uma forma de locomoção
econômica. Analisar o sistema cicloviário da área urbana de Goiânia implica
compreender essas condicionantes por meio da forma como ele está disponibilizado
na cidade. Essa condição, por sua vez, pode revelar a existência de uma segregação
socioespacial não esperada. A fragmentação das ciclovias no território da capital de
Goiás demonstra quase que uma completa falta de conexão entre o sistema cicloviário
e os principais terminais de transporte público. Além disso, observa-se que a
inexistência do sistema cicloviário em regiões periféricas do município implica num
atendimento seletivo do sistema em prol de determinada classe social. Desta maneira,
o sistema não responde de forma equânime às necessidades básicas dos diferentes
tipos de usuários, salvaguardada a existência de alguns bicicletários em poucos polos
geradores de viagem, dispersos no município. Ademais, em muitos casos, o ciclista
encontra-se a mercê de um deslocamento inseguro, incompleto e restrito. Tal situação
não só reduz a escolha das pessoas aos motivos de deslocamentos diversos, como
também, limita o direto à mobilidade urbana em sua totalidade, pelo usuário desse
tipo de modal de transporte. Considerando esses aspectos, a pesquisa parte da
seguinte questão: a localização das ciclovias em Goiânia revela uma condição de
segregação socioespacial ao analisar a sua inserção na malha urbana? A segregação
socioespacial urbana é entendida pela disposição dos objetos no espaço segundo o
uso e interesse de determinadas classes sociais. Os objetos urbanos podem ser
entendidos como empreendimentos, bairros, infraestruturas ou outros que são regidos
por decisões políticas, administrativas, sociais, econômicas e ambientais. A
convergência ou não desses aspectos podem limitar (ou não) as classes de menor
renda ao direito pleno pela cidade ou ao exercício pleno da sua cidadania. Nesse
sentido, essa pesquisa tem como objetivo geral compreender se a localização das
ciclovias em Goiânia revela ou não um processo de segregação socioespacial. O
estudo parte de uma análise crítica do espaço urbano, tomando-o como um elemento
complexo e contraditório, no qual os deslocamentos por meio do sistema cicloviário,
também, refletem essas contradições. Embora se reconheça não ser possível estudar
Goiânia dissociada da sua região metropolitana, a presente pesquisa circunscreve-se
aos raios de influência direta e indireta das ciclovias existentes na cidade no ano de
2019. A metodologia baseia-se na definição desse raio e na caracterização
socioeconômica do usuário que ele abrange. Esses dados resultaram na construção
de mapas temáticos que foram analisados por meio de modelos espaciais. Na
ausência do estudo do perfil dos usuários, cujo levantamento de campo foi afetado
pela pandemia, considerou-se estudos já elaborados. Os resultados indicam que o
sistema cicloviário encontra-se localizado em áreas dotadas de infraestrutura urbana
e com desenho disperso na malha urbana, beneficiando um determinado perfil
populacional, em contrapartida, bairros com população de menor renda não são
servidos por essa infraestrutura.