Esta pesquisa se propõe a mergulhar no espaço urbano e em sua conformação
política, na tessitura do nó que se constitui através das dinâmicas desse território em
perene disputa, nos diferentes usos da cidade, com seus antagonismos e
atravessamentos, a partir da questão da vida nas ruas. Essa discussão se faz
pertinente considerando a secularidade desse fenômeno e sua intrínseca relação com
o contexto urbano, visto que desde a formação das primeiras cidades existem pessoas
fazendo das ruas espaço de moradia e sustento. Igualmente, desde seu surgimento,
a sociedade busca explicar esse fenômeno, construindo estratégias para seu
enfrentamento. Assim, o desenvolvimento dessa discussão se dá na perspectiva do
dilema existente no convívio entre a vida nas ruas e a vida nos domicílios, o espaço
privado de moradia. Esses modos de vida são conflitantes e diametralmente opostos
nas cidades e metrópoles na sociabilidade em que vivemos. A vida nas ruas é
determinada por múltiplos aspectos do trabalho e das condições econômicas, e é no
seio do modo de produção capitalista que esse fenômeno se radicaliza, carregado por
elementos de barbárie e miséria que se escancaram nas ruas da cidade, desafiando
seus habitantes a encarar a desigualdade social e a produção da pobreza, ocasionada
por esse sistema em seus cotidianos. Consequentemente, são geradas reações das
mais diversas, ideologicamente permeadas, que se manifestam nas expectativas em
relação à intervenção do poder executivo para com essa população. Um dos modos
de manifestação política dessa reação ganha materialidade nos dispositivos adotados
pela Câmara Municipal, que age como uma caixa de ressonância do grito de incômodo
da Cidade com essa situação. Com isso em mente, decidimos por essa proposta de
incursão analítica buscando, assim, analisar como se dão essas manifestações na
cidade e quais interpretações expressam sobre esse fenômeno. Para tanto,
analisaremos os requerimentos da Câmara Municipal dirigidos ao Poder Executivo
que tiveram por objeto a questão das pessoas que vivem nas ruas no ano de 2018,
na cidade de Santos, percebendo o modo com que essa questão é discutida e
abordada pelos vereadores. Realizaremos levantamento de material e estudo
bibliográfico, procurando delimitar as tendências de análise da vida nas ruas através
da metodologia de análise de conteúdo. Com o intuito de prover o entendimento
acerca das dinâmicas contraditórias que conformam a vida nas ruas no contexto
urbano, pretendemos contribuir fornecendo elementos analíticos aos diversos
trabalhadores implicados com o tema, às pessoas que vivem nas ruas e demais
interessados, através de informações e reflexões consistentes no âmbito desse
território, no qual se empreendem constantes disputas e lutas pelas condições de vida
e garantia de direitos daqueles que vivem nas ruas.