De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente o estresse
afeta mais de 90% da população mundial, sendo considerado uma epidemia global. O
estresse tornou-se parte integrante da vida humana e os organismos são constantemente
submetidos a estímulos estressantes que alteram vários processos fisiológicos, sendo um
fator de risco para diversas patologias, como câncer, doenças cardiovasculares,
metabólicas, infecciosas, gastrointestinais e depressão. O peixe-zebra (Danio rerio) tem
muitas semelhanças com mamíferos em termos de organização geral e o funcionamento
dos respectivos sistemas reguladores do estresse. O eixo hipotálamo-pituitária-interrenal
(HPI), um sistema análogo ao eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), foi descrito em
zebrafish e a ativação desta via é essencial para a manutenção das funções vitais como
resposta a eventos estressantes. Apesar do amplo conhecimento das respostas do estresse
em mamíferos, os dados sobre a relação entre o estresse crônico imprevisível e seus
efeitos na sinalização purinérgica são limitados. A sinalização purinérgica é mediada por
ATP e adenosina por meio da ativação dos receptores P2 e P1, respectivamente. O
catabolismo de ATP extracelular até adenosina é promovido pelas ectonucleotidases,
como as Ecto-nucleosídeo trifosfato difosfoidrolases (E-NTPDases) e Ecto-5-
nucleotidases (E-5´NT). A adenosina produzida pode ser desaminada pela adenosina
desaminase (ADA), produzindo inosina. Assim, estas enzimas controlam os níveis de
nucleosídeos e nucleotídeos extracelulares, exercendo uma influência na sinalização
purinérgica. Considerando que alguns modelos de estresse podem afetar os sistemas de
sinalização, o objetivo deste estudo foi verificar se o estresse crônico imprevisível altera
as atividades ectonucleotidásicas e adenosina desaminase em cérebro de zebrafish. Além
disso, analisamos o metabolismo do ATP, bem como a expressão de genes relacionados à
ADA, ada1, ada2.1, ada2.2, adaL, adaasi e os efeitos de agonistas e antagonistas de
receptores de adenosina em zebrafish submetidos a um modelo de estresse crônico
imprevisível. Nossos resultados demonstraram que não há alterações na hidrólise de ATP
(P = 0.1499), ADP (P = 0.3615) e AMP (P = 0.8987) em membranas cerebrais de
zebrafish submetidos ao estresse crônico imprevisível. Em contraste, a atividade da ecto-
ADA diminuiu significativamente (26,8%; 8.164 ± 0,78 NH3 min−1 mg−1 de proteína; p <
0,05; n = 5) em membranas de cérebro de animais expostos ao estresse crônico
imprevisível quando comparado ao grupo controle (11.15 ± 2,16 NH3 min−1 mg−1 de
proteína; p < 0,05; n = 5). No entanto, a atividade da ADA citosólica não foi alterada. A
análise quantitativa por RT-qPCR não apresentou alterações significativas após a
exposição do estresse crônico imprevisível na expressão gênica nos genes ada1, ada2.1,
ada2.2, adaL, adaasi. O metabolismo do ATP em preparações de membrana de cérebro
de zebrafish no grupo controle e estressado foi medido por cromatografia líquida de alta
eficiência (HPLC) e mostrou um aumento significativo de adenosina nos animais
estressados. Considerando que os agonistas de receptores A1 têm uma atividade ansiolítica
e os antagonistas dos receptores A2A podem exercer efeitos neuroprotetores, investigamos
o efeito da administração de um agonista do receptor A1, N⁶-ciclopentiladenosina (CPA),
e de um antagonista de receptores A2A, (ZM241385) em parâmetros comportamentais de
animais submetidos ao estresse crônico imprevisível, para verificar uma possível relação
entre o sistema adenosinérgico e o estresse. Como resultado, observamos que esses
compostos não foram capazes de reverter o efeito ansiogênico causado pelo estresse
crônico imprevisível. Uma vez que a adenosina tem efeitos neuromodulatórios, as
alterações nos níveis de adenosina podem desempenhar um papel nos mecanismos
relacionados ao estresse, representando um mecanismo de compensação a fim de restaurar
a homeostase.