MENEZES, Sabrina Lasevitch. Micropolítica da abolição: diálogos entre a crítica feminista e o abolicionismo penal. Dissertação de mestrado. Orientação do Prof. Dr. Luiz Antônio Ribeiro e da Profa. Dra. Gizlene Neder. Niterói: Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense. 2020.
Esta pesquisa busca estabelecer um diálogo entre teoria feminista e teoria abolicionista penal, de modo a criar, com a ajuda da crítica feminista, uma estratégia de insurgência micropolítica que possa conferir uma nova potência revolucionária ao movimento abolicionista. Assim, o primeiro capítulo toma como ponto de partida a obra Três guinéus, de Virginia Woolf, considerado um documento histórico por diversos especialistas em sua literatura, como Naomi Black. Utilizando o paradigma indiciário, de Carlo Ginzburg, será analisada a rica gama de indícios históricos contida na obra de Woolf para demonstrar a íntima relação existente entre a virilidade e as práticas de guerra – incluindo em tais práticas as polícias e, de modo mais abrangente, o sistema de justiça criminal. No segundo capítulo, tal relação entre guerra e sistema penal será aprofundada. Em seguida, será feito um recorte, entre as múltiplas vertentes do abolicionismo penal, sobre os quatro nomes que Eugenio Raul Zaffaroni elegeu como os representantes do abolicionismo radical: Louk Hulsman, Thomas Mathiesen, Nils Christie e Michel Foucault. Então, serão traçados paralelos entre alguns pontos selecionados das teorias dos autores acima mencionados com a tese sustentada por Woolf em Três guinéus. Na sequência, o terceiro capítulo seleciona, nas obras escritas em conjunto por Deleuze e Guattari, ferramentas conceituais para que os pontos de convergência entre teoria feminista e abolicionismo penal sejam melhor costurados – em especial, o conceito de micropolítica do desejo. Por fim, o resultado será a criação de uma nova estratégia de insurgência micropolítica ao movimento abolicionista, nomeada micropolítica da abolição. Trata-se de uma estratégia de orientação feminista e abolicionista, a ser articulada com as práticas de insurreição macropolítica que já acontecem na luta abolicionista tradicional.