Descrição:
A história das pesquisas sobre relações raciais como paradigma teórico no Brasil envolveu a discussão sobre a existência ou não do racismo, subsumido na ideia de democracia racial, a elaboração de um programa de estudos sobre o lugar da escravidão e do racismo na estruturação do capitalismo na sociedade brasileira e da própria construção do preconceito racial e a postulação de interpretações materialistas que concebiam a escravidão como um marco inicial para pensar o racismo como sobrevivência do passado ou estimar a presença da população negra no capitalismo como metamorfose do antigo escravizado africano advindo da sociedade escravagista. Abordagens modernas, sobretudo a partir dos anos de 1970, passaram a demonstrar como o racismo organiza um padrão de estratificação racial e reproduz mecanismos societários que reproduzem um amplo espectro de desigualdades raciais. Mais recentemente, outros autores se dispuseram a discutir o estatuto epistemológico-teórico da categoria “raça”, reivindicando um uso plenamente sociológico do conceito. Esta ampla discussão tem como corolário uma perspectiva de análise que pode ser vista como hegemônica quando pensamos em uma abordagem interpessoal e interacional acerca das vivências e experiências relacionais das opressões, das desigualdades e das assimetrias sociorraciais. Esta abordagem tende a conceber as vivências e experiências de discriminação como fenômenos e processos políticos que em muitas pesquisas contemporâneas são apresentados como autoevidentes, levando-nos a pensar que podemos dispensar a identificação de elementos semânticos e, fazendo-nos negligenciar a descrição densa das maneiras pelas quais elas acontecem na vida social. Este quadro, por sua vez, poder implicar em uma minimização da importância da análise socioantropológica dos elementos simbólicas e subjetivos que integram o funcionamento historicamente mutável e heterogêneo do racismo. Em decorrência deste motivo central, este projeto de pesquisa procura rediscutir um modelo de análise sobre insultos verbais que concebe a existência de um ofensor poderoso versus um ofendido impotente a partir de questionamentos que parte da ideia de que há um campo de ofensividade/insultuosidade (ou seja, aquilo que compreende práticas depreciativas, humilhante e subordinadoras, que envolvem perda social e dano psicossocial à um indivíduo) que se opõem diametralmente à um outro campo, o da brincadeira, da comicidade (isto é, um conjunto de práticas que são risíveis e burlescas, que divertem e estabelecem o humor compartilhado entre pessoas em uma situação) como campos semânticos sempre fixo, opostos e polarizados. Sob esta perspectiva interacional, Charles Flynn define insulto verbal como uma modalidade de ação de natureza social, que ele nomeia como Insulto coletivo, sendo visto como um exemplo primeiro de preconceito e de manifestação de assimetrias de poder. Com a intenção de explicitar que práticas vistas como estritas à esfera individual ou, no limite, interpessoais, deveriam ser vistas como reinstituições políticas de estruturas coletivas amplas que articulam e mobilizam hierarquias raciais e sexuais amplas, Charles Flynn usou o termo “insulto coletivo” para defini-los estritamente como “atos, observações ou gestos que expressam opiniões bastante negativas sobre pessoas ou grupos que podem se expressar não apenas como uma ação verbal”. Por meio do insulto verbal, seja sob práticas dissimuladas, como piadas de duplo sentido, gestos ambíguos e comentários ambivalentes, seja através de práticas explícitas, como os insultos verbais ofensivos, atos não-verbais derrogatórios e gestos corporais agressivos, é possível provocar algum dano moral à identidade individual do sujeito, mobilizando alguma característica negativa socialmente atribuída ao seu suposto grupo social de origem.
Ao projeto principal, vinculam-se os seguintes subprojetos:
1. Políticas Educacionais para Refugiados: um estudo sobre alunos venezuelanos da etnia Warau em Santarém região (dissertação de mestrado 2020-2022): tem por objetivo analisar os desafios da implementação das políticas públicas educacionais voltada para o atendimento de alunos venezuelanos da etnia Warao, no município de Santarém-PA, de acordo com as sugestões do Ministério Público Federal no Parecer 208/2017. Percorrer os caminhos que os grupos fazem para chegar a Santarém e a mobilização dos órgãos públicos para garantir os direitos legais, dentre eles o que será analisado mais profundamente: o direito a educação formal do povo que está em constante fluxo migratório nos Estados Brasileiros por conta da grave crise econômica que seu país enfrenta
2. Discriminação racial em uma escola de Santarém: O que os professores falam? (TCC – 2019-2020): A discriminação racial apresenta-se como problemática grave nas escolas brasileiras, refletindo o abismo histórico entre negros e brancos. A escola é vista como uma das mais importantes instituições no combate a esta realidade, porém o que se observa, muitas vezes, é silenciamento e omissão. O estudo busca analisar como professores têm lidado com este contexto e apontar suas dificuldades neste enfrentamento.
3 Educação escolar Quilombola: história de uma instituição educacional (TCC – 2019-2020): Com objetivo de apresentar um estudo da Educação Escolar quilombola, pensando identidade e cultura negra em uma comunidade quilombola de várzea, elaborou-se o presente texto, primeiramente buscando compreender como se deu este processo de construção desta educação na comunidade, as primeiras iniciativas de inserir o negro no âmbito escolar e quais são os objetivos da educação oferecida, tendo em vista que muitas escolas construídas nos territórios quilombolas não foram criadas como escolas quilombolas em sua concepção original.
O hip-hop como literatura marginal: análise das músicas de um rapper negro na Amazônia (TCC – 2019-2020): O Rap, desde o seu surgimento, é um estilo musical de contestação. Os versos rápidos, rimados e quase sem repetições, na maioria das vezes questionam a sociedade contemporânea e a segregação racial. Tal movimento tem base, principalmente tratando-se da realidade brasileira, na literatura marginal, iniciada no Brasil durante a década de 1970, mas ressignificada vinte anos depois por autores como Ferréz, que utilizou o termo marginal para caracterizar o contexto de suas obras, concebidas em meio à marginalidade social e cultural à qual estava submetido. A literatura marginal, na acepção estritamente artística, é uma produção que afronta o cânone, rompendo com as normas e paradigmas estéticos vigentes. Este estilo cria sua própria poética, dando musicalidade a seus versos. Neste sentido, o paraense Pelé do Manifesto surge como expoente do movimento na região norte, mais especificamente no Pará. O artista traz a música características da região, bem como as questões socioculturais de um Estado pouco conhecido nesta vertente musical / literária. O rapper assume, ainda que não intencionalmente, papel de autor marginal, tendo em vista que existe um espaço comum a este movimento dentro do cenário musical brasileiro o qual não faz parte. Este estudo busca compreender como o Rap passou a ser considerado expressão literária, principalmente como manifestação marginal e de protesto. A análise das composições do artista paraense Pelé do Manifesto tem como finalidade mostrar como tal musicalidade se torna literatura e suas especificidades em comparação a artistas das demais regiões do país, de maior visibilidade, relegando ao músico paraense o status de à margem de movimento já marginal. A pesquisa se dá pela necessária compreensão de como esse gênero está estabelecido na região amazônica e de que forma se vale das mazelas locais para criar literatura marginal e de protesto. É importante compreender se os artistas da cena hip hop paraense estão conscientemente produzindo literatura marginal e quais são os principais nomes do rap no Estado.
4. A tecnologia educacional na educação quilombola da cidade de Oriximiná (TCC – 2020-2021): a pesquisa tem como principal intenção analisar e propor os efeitos da tecnologia na educação quilombola – cidade de Oriximiná Alto Trombetas. A tecnologia na educação quilombola é um avanço que traz muitos benefícios para a educação dentro do quilombo, mas é também um grande desafio. Assim, é fácil compreender por que muitos buscam sair de suas comunidades com o objetivo de ir à busca de conhecimentos diferenciados, pois conhecer a terra, sua cultura e características é o que forma o perfil de uma pessoa quilombola. Mesmo com todas as dificuldades a serem enfrentadas, o povo quilombola não desiste de buscar de outros conhecimentos, sejam quais forem, aí identificamos a tecnologia na educação, uma grande fonte de formação e informação. Vale ressaltar que não é nada fácil sair de sua casa, sua comunidade em busca de valores, informação e formações, como os que a tecnologia pode proporcionar, a fim de trazer esses aprendizados para dentro da comunidade e enriquecer mais o povo batalhador e cheio de garra, que é o povo negro.